O Processo de Alfabetização segundo a Psicogênese da Língua Escrita está fundamentada em uma abordagem voltada a teoria psicogenética do renomado psicólogo suíço Jean Piaget (1930). Essa teoria trata-se da teoria do conhecimento, denominado Epistemologia que significa, segundo o Dicionário Aurélio: “Conjunto de conhecimentos que tem por objeto o conhecimento científico, visando a explicar seus condicionamentos, sistematizar suas relações, esclarecer seus vínculos e avaliar seus resultados e aplicações”.
Fundamentada na Epistemologia Genética de Piaget e de estudos de linguistas renomados surgiu a Psicogênese da Língua Escrita. Ela é uma teoria educacional que estuda o processo de alfabetização das crianças. Desenvolvida por Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1979), essa abordagem teórica reconhece o papel ativo das crianças na construção do conhecimento durante a aprendizagem da leitura e da escrita.
A teoria busca compreender as etapas de desenvolvimento da leitura e escrita nas crianças, a fim de proporcionar uma educação mais eficaz e personalizada. É fundamental que os educadores entendam as particularidades de cada fase do processo de alfabetização, para que possam utilizar ferramentas pedagógicas adequadas em cada momento do aprendizado.
Ao adentrarmos nesse universo psicogenético, tomaremos conhecimento não apenas dos aspectos teóricos da psicogênese da língua escrita, mas também a aplicação prática desses princípios no contexto educacional. Prepare-se para uma jornada esclarecedora, onde exploraremos as nuances do desenvolvimento linguístico, compreendendo como cada criança constrói seu próprio caminho em direção à maestria da leitura e escrita, guiada pelos princípios fundamentais da psicogênese de Piaget.
Ao longo deste artigo, exploraremos sobre a Psicogênese da Língua Escrita com os seguintes temas: O que é a Psicogênese da Língua Escrita? A Relevância da Teoria de Piaget para Compreensão dos Processos de Aquisição da Leitura e da Escrita; A Importância da Psicogênese da Língua Escrita; A Psicogênese da Língua Escrita no Contexto Brasileiro; Como Aplicar na Prática a Psicogênese da Língua Escrita; e O Futuro da Psicogênese da Língua Escrita.
Discorreremos sobre esses temas, por acharmos relevantes para os profissionais da educação e também especialistas terapeutas que desenvolvem seus trabalhos voltados para a clientela que estão no processo de aquisição do conhecimento do sistema da leitura e da escrita. Vamos começar!
O que é a Psicogênese da Língua Escrita?
A Psicogênese da Língua Escrita é uma teoria que estuda como ocorre a aprendizagem da leitura e da escrita nas crianças, levando em consideração a forma como elas organizam seus pensamentos nesse processo. Esse conceito foi introduzido por Emília Beatriz Maria Ferreiro Schavi (discípula de Piaget) e Ana Leonor Teberosky (Argentinas), estudiosas no tema e fundamentadas em várias pesquisas baseadas principalmente nos estudos psicogenéticos de Piaget, os quais buscavam compreender como as crianças utilizam os mecanismos cognitivos para adquirir o conhecimento.
Para um melhor entendimento vamos a definição do que venha a ser: Psicogênese. É uma área da psicologia que estuda a origem e o desenvolvimento ou evolução dos processos mentais, das funções psíquicas ou das causas psicológicas. De acordo com o site QConcursos o termo psicogênese pode ser compreendido como origem, gênese ou história da aquisição de conhecimentos e funções psicológicas de cada pessoa, processo que ocorre ao longo de todo o desenvolvimento, desde os anos iniciais da infância, e se aplica a qualquer objeto ou campo de conhecimento.
No campo da aquisição da escrita, essa concepção está associa aos estudos psicogenéticos de Emília Ferreiro, Ana Teberosky e vários colaboradores. A pesquisa nesse campo se deu nos anos de 1974, 1975 e 1976, por meio de experimentos com crianças em Buenos Aires. Através, dessas experiências as autoras escreveram um denso e longo relatório intitulado “Psicogênese da Língua Escrita”.
Posteriormente houve um desmembramento da obra tendo como foco para as práticas de alfabetização, surgindo na literatura uma versão simplificada de fases da aprendizagem do sistema da escrita. Essa teoria inicialmente foi divulgado em países de língua espanhola, na década de 1970, tendo forte impacto posteriormente no Brasil, a partir da década seguinte, principalmente na Educação Infantil e nos anos iniciais à alfabetização.
Psicogênese da Língua Escrita, foi introduzida no Brasil por volta dos anos 1980 (Picolli; Camini, 2013). As literatas fizeram uso dos avanços da gramática gerativa de Noam Chomsky e das teses de Jean Piaget sobre o desenvolvimento da inteligência na criança. Elas apresentam nesses estudos como as crianças constroem hipóteses sobre a escrita antes de dominarem o sistema alfabético. A teoria destaca o papel ativo das crianças nesse processo, ressaltando a importância de compreender o pensamento individual de cada uma delas para promover uma alfabetização eficaz.
O livro Psicogênese da Língua Escrita de Emília Ferreiro e Ana Teberosky é uma referência fundamental para o estudo e a compreensão dessa teoria. Nele, as autoras apresentam pesquisas e análises que ajudam a compreender a forma como as crianças constroem seu conhecimentos sobre a escrita e como os educadores podem utilizar esse conhecimentos para promover uma aprendizagem mais eficiente e personalizada. Abaixo o link do livro da edição comemorativa dos 20 anos de publicação.
Portanto, o livro de Ferreiro em coautoria com Ana Teberosky representa um ponto de virada significativo na forma como abordamos a aquisição da linguagem escrita em nosso país, dando origem a um novo paradigma de compreensão: o paradigma Psicolinguístico. Este marco referencial destaca a importância de integrar aspectos psicológicos e linguísticos no estudo do desenvolvimento da escrita, rompendo com abordagens tradicionais e oferecendo uma visão mais abrangente e dinâmica sobre o processo de alfabetização. A obra de Ferreiro e Teberosky inspirou uma mudança de perspectiva, reconhecendo que a aquisição da escrita é influenciada por uma variedade de fatores cognitivos, linguísticos e sociais.
A Relevância da Teoria de Piaget para Compreensão dos Processos de Aquisição da Leitura e da escrita
A relevância da teoria de Piaget para a compreensão dos processos de aquisição da leitura e escrita tem como postulado a abordagem construtivista do desenvolvimento cognitivo, quando afirma-se que o aprendizado não é um processo passivo, mas sim uma construção ativa do conhecimento por parte do indivíduo. No contexto da alfabetização, essa perspectiva oferece uma visão profunda sobre como as crianças assimilam e acomodam informações relacionadas à linguagem escrita, construindo gradualmente um entendimento e aprendizado.
As pesquisadoras inicialmente buscaram muito estudo teórico, análise e reflexão aprofundada em investigações sobre a aprendizagem da língua escrita, para então desenvolver as experiências. Nessa época, a maioria das literaturas apresentavam trabalhos voltados a divulgação de metodologias como solução para aprender a ler e escrever; outros tipos de trabalhos bastante vinculados aos estudos da alfabetização na época, eram direcionados para as capacidades e/ou aptidões necessárias para a aprendizagem da “maturidade para a lectoescrita”. Partindo do conhecimento desses métodos empregados, as autoras com os conhecimentos da psicolinguística e das teorias psicológica e epistemológica do psicólogo Jean Piaget introduziram em suas experiências a teoria psicogenética.
Ambas tiveram como pressuposto uma outra visão da forma de aprender a ler e escrever. Imbuídas nos trabalhos piagetiano, em que acreditam no próprio sujeito, isto é, o sujeito cognoscente que de acordo com Piaget evolui, dá significado ao real, descentra-se, constrói, modifica, especializa-se ampliando o seu campo de conhecimentos, consegue ultrapassar-se. Desse modo, elas desenvolvem a teoria da lectoescrita centrada nos fundamentos da teoria de Piaget, em que o sujeito “aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo que organiza seu mundo.
De acordo com Ferreiro e Teberosky, levaram em consideração no contexto do estudo desenvolvido a competência linguística das crianças e suas capacidades cognoscitivas, pois na visão dessas autoras as crianças ao ingressarem na escola chegam com uma bagagem de conhecimentos de sua língua materna (conhecimentos prévios), e fazem uso desse saber “sem saber” (inconscientemente), em suas ações comunicativas no seu dia-a-dia em vários espaços: familiar, social e posteriormente no escolar. Para as referidas autoras, é interagindo com a língua escrita, contemplando seus usos e funções nas mais diversas situações comunicativas que as crianças se apropriam do sistema alfabético.
Piaget não fundamentou nenhuma teoria piagetiana da lectoescrita. Ele não elaborou investigação alguma voltada para esse tema, contudo a teoria piagetiana trata de forma geral dos processos de aquisição do conhecimento. As autoras concebem que não se trata de uma teoria limitada aos processos de aquisição de conhecimentos lógico-matemáticos e físicos, e sim como uma teoria dos processos de aquisição de conhecimento, sendo essa a interpretação delas. Ferreiro e Teberosky (1999, pag. 31) diz: a teoria de Piaget não é uma teoria particular sobre um domínio particular, mas sim um marco teórico de referência, muito mais vasto , que nos permite compreender de uma maneira nova qualquer processo de aquisição de conhecimento.
Assim, consideram a teoria piagetiana não como “dogma”, mas sim, como teoria científica aplicando-a em domínios ainda não explorados. Portanto, a teoria de Piaget, para as autoras permite introduzir a escrita enquanto objeto de conhecimento, e o sujeito da aprendizagem, enquanto sujeito cognoscente. Além disso a teoria permite introduzir a noção de assimilação que também foram referenciada por elas.
Como conclusão a pertinência da teoria de Piaget para compreender os processos de aquisição da leitura e da escrita, as pesquisadoras assinalam que a finalidade é mostrar nos fatos a pertinência da teoria psicogenética de Piaget e das conceitualizações da psicolinguística, para compreender a natureza dos processos de aquisição de conhecimento sobre a língua escrita.
A Importância da Psicogênese da Língua Escrita
A Psicogênese da Língua Escrita é uma abordagem teórica de grande importância no campo da alfabetização. Ela destaca o papel ativo das crianças no processo de aprendizagem da leitura e da escrita, reconhecendo que elas constroem hipóteses e organizam seu pensamento durante esse processo. Essa teoria revoluciona o entendimento da alfabetização, oferecendo uma visão diferenciada de como as crianças aprendem a ler e escrever. Ao compreender as etapas de desenvolvimento da escrita nas crianças, os educadores podem adaptar suas práticas pedagógicas de acordo com as necessidades individuais de cada aluno, promovendo uma aprendizagem mais eficaz e personalizada.
Fundamentada em princípios piagetianos, essa teoria foca no processo de construção da escrita como um sistema de representação da linguagem, concebendo a criança como protagonista do seu próprio aprendizado. Dessa forma, tanto para Piaget como para Ferreiro, o conhecimento não se traduz em mera aquisição (memorização), mas numa construção permanente. Em outras palavras, o sujeito constrói, pensa, pergunta, formula e busca. O educador, por sua vez, precisará compreender todo esse processo de construção, para poder intervir de forma competente nas hipóteses elaboradas pela criança.
Desse modo, as crianças são concebidas como principais atores no processo de alfabetização, tendo um papel ativo na construção do conhecimento. A partir dessa perspectiva, a Psicogênese da Língua Escrita oferece uma nova abordagem para os educadores, permitindo que eles compreendam as diferentes fases de desenvolvimento da escrita e adaptem suas práticas pedagógicas de acordo com as necessidades individuais de cada aluno.
Portanto, a Psicogênese da língua escrita descreve como o aprendiz se apropria dos conceitos e das habilidades de ler e escrever, mostrando que a aquisição desses atos linguísticos segue um percurso semelhante àquele que a humanidade percorreu até chegar ao sistema alfabético. Compreender as etapas do processo de alfabetização, reconhecer as hipóteses que as crianças constroem sobre a escrita e entender como elas organizam o pensamento nesse processo, é fundamental para o desenvolvimento e o aprendizado da escrita.
Segundo FERREIRO, 1994, p.18, o modo tradicional de se considerar a escrita infantil consiste em se prestar atenção apenas nos aspectos gráficos dessas produções, ignorando os aspectos construtivos. Os aspectos gráficos têm a ver com a qualidade do traço, a distribuição espacial das formas, a orientação predominante (da esquerda para a direita, de cima para baixo), a orientação dos caracteres individuais (inversões, rotações etc.). Os aspectos construtivos têm a ver com o que se quis representar e os meios utilizados para criar diferenciações entre as representações.
As ideias que os alunos constroem sobre a escrita (hipóteses) são erros construtivos, cometidos e necessários para que se aproximem cada vez mais da escrita convencional. Mesmo sendo erros considerados necessários, o professor deve fazer intervenções pontuais para que aconteça o avanço de fase, ou seja, a mediação é necessária, pois as hipóteses da escrita superam-se umas às outras, dependendo de como o professor organiza as situações didáticas. Ao valorizar as ideias e os processos de construção do conhecimento de cada criança, os educadores promovem uma aprendizagem mais significativa e empoderam os alunos a se tornarem leitores e escritores autônomos.
A importância da Psicogênese da Língua Escrita está relacionada à sua contribuição no campo da educação, oferecendo uma abordagem teórica fundamentada em pesquisas sólidas. Ao compreender os princípios dessa teoria educacional, os educadores podem promover uma alfabetização mais eficaz, que se adapte às necessidades individuais de cada aprendente. Dessa forma, a Psicogênese da Língua Escrita desempenha um papel fundamental na formação dos profissionais da educação e especialistas da área.
A Psicogênese da Língua Escrita no Contexto Brasileiro
A Psicogênese da Língua Escrita teve um impacto significativo no ensino da leitura e escrita no Brasil, principalmente nas décadas de 1980 e 1990. Essa abordagem teórica, desenvolvida por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, busca compreender o processo de aprendizagem da leitura e escrita nas crianças, considerando a forma como elas organizam seus pensamentos nesse processo.
Quando foi publicada em 1979 a pesquisa intitulada Psicogênese da Língua Escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, alterou o panorama da alfabetização, mudando o modo como esse processo passou a ser concebido. Apoiadas na Epistemologia Genética de Jean Piaget, as pesquisadoras em questão trouxeram contribuições que transformaram o modo de alfabetizar e mudaram o foco do ensino da leitura e da escrita, que passou a ser visto sob a ótica de quem aprende e não de quem ensina, isto é, passou a ver o sujeito cognoscente.
Críticas e Controvérsias
A aplicação da Psicogênese da Língua Escrita gerou controvérsias e críticas entre os educadores. Alguns questionaram sua viabilidade em contextos de desigualdade social e econômica, levantando preocupações sobre a capacidade de utilizá-la de forma eficaz em diferentes realidades educacionais. Para tentar minimizar essa dificuldade, o MEC (Ministério da Educação) investiu em formação continuada de professores buscando fornecer-lhes propostas metodológicas embasadas nessa contribuição psicolinguística.
A base teórica da Psicogênese da linguagem escrita foi introduzida no Brasil no final dos anos 1980 com o objetivo de aprimorar a qualidade do processo de alfabetização. As Secretarias de Educação do país, diante do alto índice de insucesso escolar, iniciaram um trabalho de elaboração de Propostas Pedagógicas. Em conjunto, investiram na capacitação de Supervisores de Ensino para disseminar esses conhecimentos em cursos destinados aos professores alfabetizadores da Rede de Ensino.
A decisão dos sistemas públicos de ensino de adotar essa abordagem foi fortemente influenciada pelas descobertas de Ferreiro e Teberosky (1986), as quais buscavam sistematizar a Psicogênese da linguagem escrita. Na época, essas descobertas causaram mudanças significativas nas crenças e fundamentos da alfabetização tradicional, resultando em um conflito metodológico para os professores.
Com a adesão dos sistemas de ensino ao referencial teórico da Psicogênese houve um
conflito metodológico assumido pelos professores naquele momento (MENDONÇA E
MENDONÇA, 2011).
Consequentemente, ocorreu uma interpretação equivocada da teoria, levando à exclusão de conteúdos específicos da alfabetização. Um grande equívoco foi a exclusão do ensino de conteúdos específicos no caso, o trabalho com o desenvolvimento das habilidades e consciência fonológica (como a diferenciação entre letras e sons, análise e síntese de palavras e sílabas, entre outros) dos alfabetizandos (MORAIS, 2005). Em vez disso, foram adotadas práticas que enfatizavam exclusivamente a função social da escrita. Os responsáveis por essas propostas buscaram, com base na teoria, desenvolver um método de alfabetização revolucionário e inovador, diferente do método das cartilhas que vinha sendo utilizado no país por décadas.
Outro equívoco foi interpretar a Psicogênese da Linguagem Escrita como um método de ensino. Alguns pesquisadores brasileiros, como GROSSI (1985, 1995) e WEISZ (1988), buscaram didatizar, simplificando os estágios conceituais linguísticos propostos por Ferreiro e Teberosky (1986), transformando-os em um conjunto de atividades prontas para serem utilizadas pelos professores. Isso resultou na oferta de atividades pré-elaboradas, sem proporcionar aos professores os instrumentos necessários para avaliar adequadamente os conhecimentos de escrita de seus alunos. Conforme destacado por Mendonça e Mendonça (2011, p. 45), tanto o construtivismo quanto a Psicogênese da linguagem escrita não devem ser vistos como métodos de ensino. No entanto, ainda é comum encontrar alfabetizadores que se autodenominam como seguidores do “método construtivista”, evidenciando a persistência desse equívoco.
Uma outra questão decorrente da interpretação inadequada da Psicogênese foi relacionada à dificuldade em compreender os conceitos de alfabetização e letramento. Essa confusão impactou diretamente o trabalho pedagógico do professor, pelo não entendimento de que para a criança aprender a ler e escrever é necessário que ela reflita sobre as particularidades da alfabetização, trabalhando de forma sistemática os conhecimentos relacionados ao nosso sistema de escrita alfabética e não somente ter contato com os textos presentes no ambiente social.
Muitos outros equívocos são abordados por vários autores, no entanto é importante saber que um dos grandes engano foi voltado a aversão à sílaba. Esse viés surgiu devido à crítica aos métodos tradicionais de alfabetização, os quais foram amplamente baseados no uso da cartilha. Estas cartilhas eram organizadas de maneira a apresentar as famílias silábicas de forma sequencial, seguindo a ordem alfabética, por meio de uma abordagem mecanizada, fragmentada e repetitiva.
As consequências desses equívocos têm sido objeto de debate em pesquisas por vários autores como Morais, Cagliari, Soares e outros. Nesse contexto, autores ressaltam que essa interpretação inadequada da teoria resultou em distorções significativas sobre o conceito de métodos, os quais passaram a ser alvo de críticas no campo pedagógico. Isso ocorreu porque esses métodos pareciam incorporar práticas mecanicistas associadas aos métodos sintéticos, baseados em uma visão empirista do conhecimento. As críticas estão relacionadas a ideia de que o aluno aprenda sozinho o funcionamento do sistema de escrita alfabética, o que leva a alguns autores a questionarem esse posicionamento, pois na visão deles e nossa a maneira certa de alfabetizar alguém, é fazendo comparações e formulando regras com coerência e generalização.
Soares, em seu texto “A Reinvenção da Alfabetização” (2003), destaca a urgência de repensar o processo de alfabetização, uma vez que este tem perdido sua singularidade. A autora argumenta que a introdução de uma nova concepção de alfabetização no Brasil, focada na aprendizagem, acabou por diluir o aspecto linguístico essencial no processo, que envolve a compreensão progressiva das regularidades e irregularidades da língua, e a apropriação dos princípios que regem o sistema alfabético de escrita. Soares ressalta a necessidade de reinventar a alfabetização, cuja especificidade foi enfraquecida devido à ênfase nas práticas construtivistas. Ela enfatiza que simplesmente expor a criança a uma grande quantidade de material escrito não é suficiente; é crucial orientá-la de maneira sistemática e progressiva para que possa compreender e dominar o sistema de escrita.
Apesar das críticas e controvérsias, a Psicogênese da Língua Escrita continua sendo estudada e discutida no campo da educação, pois a pesquisa de Ferreiro e Teberosky (1986) trouxe uma enorme contribuição para o campo da alfabetização, revolucionando o campo conceitual, científico e prático do trabalho de alfabetização. Seu principal objetivo é promover a inclusão social e a construção do conhecimento de forma significativa, buscando adaptar o ensino da leitura e escrita às necessidades individuais de cada aluno.
Para que a Psicogênese da Língua Escrita seja aplicada de maneira eficiente no contexto brasileiro, é fundamental que os educadores recebam formação adequada para o desenvolvimento de práticas alfabetizadoras conscientes. Os pesquisadores Morais (2012), Leal (2005), Mendonça (2011) sugerem que a escola desenvolva um trabalho sistemático de consciência fonológica para que haja uma maior compreensão e apropriação do sistema de escrita pela criança.
Como Aplicar na Prática a Psicogênese da Língua Escrita?
A aplicação prática da Psicogênese da Língua Escrita requer um estudo aprofundado da teoria e uma capacitação constante dos educadores. Para que utilizemos essa teoria de forma prática é essencial compreender e dominar o conhecimento sobre as etapas de desenvolvimento da escrita nas crianças e, a partir dessa compreensão, criar um plano de ação individualizado a depender da necessidade da turma.
Sabemos que o objeto da alfabetização é o domínio do ato de ler e escrever. Mas, é necessário analisarmos profundamente o que vem a ser Ler e Escrever. Qual sua origem, seu desenvolvimento e suas relações com o pensamento, com a linguagem oral e com o mundo. O professor deve está qualificado para saber trabalhar os princípios metodológicos e os embasamentos teóricos para aplicar na prática a psicogênese da língua escrita.
Os educadores devem adaptar as atividades e os materiais pedagógicos de acordo com a fase específica de desenvolvimento da escrita em que cada criança se encontra. Dessa forma, é possível personalizar o ensino e proporcionar um ambiente de aprendizagem adequado às necessidades de cada aprendiz. Assim, mediante a elaboração de atividades enriquecedoras, qualificadas na base do conhecimento psicogenético é possível aplicar atividades que estimulem as funções cognitivas (mentais), perceptivas, psicomotoras e linguísticas de forma que a criança incorpore o conhecimento.
Uma abordagem eficaz é utilizar procedimentos pedagógicos que estimulem a interação social e a construção do conhecimento, como atividades em grupo e projetos colaborativos. Transformar o ambiente de sala num lugar rico e propício à aprendizagem. É importante proporcionar momentos de leitura, escrita e reflexão, por meio de atividades com conteúdos significativos que estimulem a inteligência como um todo, evitando atividades mecânicas que envolvam somente os sentidos, independente do ato intelectual.
Além disso, os educadores devem estar atentos aos sinais de progresso na escrita de cada criança, fornecendo feedback construtivo e encorajador. É fundamental valorizar os esforços e as conquistas individuais, incentivando o desenvolvimento contínuo. No tocante a Avaliação na Psicogênese, ela se baseia na observação contínua do processo de aprendizagem de cada criança, valorizando seus avanços individuais. O educador acompanha a evolução da escrita, registrando suas hipóteses e progressos em um portfólio individual.
Com a aplicação prática da Psicogênese da Língua Escrita, os educadores podem oferecer um ensino mais personalizado, adaptado às fases de desenvolvimento da escrita de cada criança. Dessa forma, promove-se uma aprendizagem mais significativa e eficaz, proporcionando uma base sólida para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita.
A imagem a seguir ilustra um exemplo de atividade prática para aplicar a Psicogênese da Língua Escrita:
Tabela 1: Exemplo de atividade prática para aplicar a Psicogênese da Língua Escrita
Fase de Desenvolvimento | Procedimento Pedagógico |
---|---|
1. Fase Pré-Silábica | Explorar e nomear diferentes objetos, estimulando a expressão oral e a organização do pensamento. |
2. Fase Silábica | Trabalhar com rimas e jogos de palavras, estimulando a percepção dos sons da fala e a consciência fonológica. |
3. Fase Silábico- Alfabética | Realizar atividades de escrita de palavras e frases curtas utilizando o conhecimento alfabético, desenvolvendo a expressão escrita. |
4. Fase Alfabética | Promover a leitura de diferentes gêneros textuais e a produção de textos mais complexos, desenvolvendo habilidades de compreensão e expressão escrita. |
Através dessa abordagem personalizada, os educadores podem ajudar as crianças a progredir de maneira eficiente e adequada ao longo do processo de alfabetização, garantindo o desenvolvimento pleno de suas habilidades de leitura e escrita.
É importante que o professor domine as fases da escrita para aplicar atividades distintas a depender das necessidades dos aprendizes, pois cada fase tem suas características e desafios específicos. Segue outras sugestões para o trabalho de construção mental.
1. Fase Pré-silábica:
- Características: A criança ainda não reconhece a relação entre sons e letras, utilizando a escrita como um desenho ou representação gráfica de objetos e ideias.
- Atividades: Brincadeiras com sons e letras, jogos de adivinhação e memória, criação de desenhos e símbolos para representar palavras e frases, exploração de diferentes tipos de escrita (placas, anúncios, livros).
2. Fase Silábica:
- Características: A criança reconhece a relação entre sons e letras, mas ainda não domina o sistema alfabético, escrevendo com uma sílaba para cada som.
- Atividades: Ditados silábicos com palavras simples e familiares, composição de palavras a partir de sílabas soltas, jogos de palavras cruzadas e caça-palavras com foco nas sílabas.
3. Fase Silábico-Alfabética:
- Características: A criança inicia o uso de letras para representar sons, mas ainda apresenta inconsistências, utilizando uma escrita mista que combina elementos silábicos e alfabéticos.
- Atividades: Ditados de palavras com diferentes estruturas silábicas, criação de frases e textos curtos utilizando o conhecimento alfabético, jogos de completar palavras e formar frases com base em regras ortográficas.
4. Fase Alfabética:
- Características: A criança domina o sistema alfabético e consegue escrever palavras com precisão, tornando sua escrita mais convencional e regular.
- Atividades: Produção de textos mais elaborados (histórias, poemas, contos), revisão e correção ortográfica de textos escritos, exploração de diferentes gêneros textuais e estilos de escrita.
5. Fase Pós-Alfabética:
- Características: A criança escreve com fluência e desenvolve seu próprio estilo, utilizando a escrita como instrumento para expressão pessoal e comunicação eficaz.
- Atividades: Elaboração de textos criativos e argumentativos, participação em debates e projetos de escrita colaborativa, reflexão sobre a linguagem e seus diferentes usos.
Adaptação aos Diferentes Estágios de Escrita
Um dos principais benefícios do conhecimento em Psicogênese da Língua Escrita é a capacidade de adaptar as atividades pedagógicas aos diferentes estágios de escrita das crianças. Essa abordagem reconhece que as crianças passam por fases distintas no seu desenvolvimento da escrita e que cada fase requer estratégias de ensino adequadas.
- Fase Pré-silábica: Nesta fase, as crianças ainda não compreendem a relação entre as letras e os sons. – Utilizar jogos de associação, atividades com imagens e brincadeiras que estimulem a consciência fonológica.
- Fase Silábica: As crianças começam a entender que as palavras podem ser divididas em sílabas. – Propor atividades de segmentação de sílabas, jogos de rimas e outras estratégias que trabalhem a consciência fonêmica.
- Fase Silábico-alfabética: Nesta fase, as crianças já conseguem relacionar letras e sílabas, mas ainda cometem erros ortográficos. – Utilizar exercícios de completar palavras, atividades de escrita criativa e ditados, buscando corrigir e aprimorar a escrita.
- Fase Alfabética: As crianças já dominam o sistema alfabético e conseguem escrever de forma mais fluente e correta. – Propor atividades de produção de textos, leituras mais complexas e debates, estimulando o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita.
Ao adaptar as estratégias pedagógicas a cada estágio de desenvolvimento da escrita, os especialistas em alfabetização promovem uma aprendizagem mais eficiente e significativa, garantindo que as crianças progridam em direção à leitura e a escrita autônomas.
O Futuro da Psicogênese da Língua Escrita
O futuro da Psicogênese da Língua Escrita está intrinsecamente ligado à evolução da teoria educacional e às novas abordagens de alfabetização que surgem constantemente. Embora o destino específico dessa teoria seja incerto, é importante ressaltar que ela continua sendo objeto de estudo e discussão entre pesquisadores e educadores.
Com o avanço das pesquisas e a compreensão cada vez maior do processo de aprendizagem da leitura e escrita, é possível que novas abordagens de alfabetização sejam desenvolvidas, incorporando elementos da Psicogênese da Língua Escrita. Essas abordagens podem se adaptar e se ajustar aos desafios e demandas atuais, buscando promover uma educação mais eficiente e significativa nessa área.
Embora não seja possível prever exatamente qual será o futuro da Psicogênese da Língua Escrita, é fundamental que a teoria continue a ser uma fonte de inspiração para a construção de práticas pedagógicas inovadoras e eficazes no ensino da leitura e escrita.
Conclusão
A Psicogênese da Língua Escrita desempenha um papel fundamental no processo de alfabetização e na prática educacional. Essa teoria reconhece a importância do protagonismo das crianças, que são vistas como construtoras ativas do conhecimento durante o aprendizado da leitura e escrita. Através do entendimento das etapas de desenvolvimento da escrita, os educadores podem adaptar seu ensino de acordo com as necessidades individuais de cada aluno.
Apesar das controvérsias e críticas que a Psicogênese da Língua Escrita enfrenta, ela continua sendo amplamente estudada e debatida no campo da educação. A teoria estimula a busca por abordagens pedagógicas mais eficazes e personalizadas, visando promover uma alfabetização significativa e de qualidade.
O conhecimento em Psicogênese da Língua Escrita é essencial para os profissionais especialistas. Ao integrar essa teoria educacional em suas práticas, os educadores têm a oportunidade de adotar uma abordagem mais individualizada e adaptada às necessidades específicas de cada aluno, gerando resultados mais eficientes e satisfatórios.
FAQ
O que é a Psicogênese da Língua Escrita?
Quais são os níveis da Psicogênese da Língua Escrita?
Qual é a importância da Psicogênese da Língua Escrita?
Quem criou a Psicogênese da Língua Escrita?
Como aplicar na prática a Psicogênese da Língua Escrita?
Qual é o impacto da Psicogênese da Língua Escrita no contexto brasileiro?
Qual é a importância do conhecimento em Psicogênese da Língua Escrita para pedagogos?
Qual é o futuro da Psicogênese da Língua Escrita?
Qual é a conclusão sobre a Psicogênese da Língua Escrita?
Links de Fontes
- https://pedagogiaparaconcurso.com.br/psicogenese-da-lingua-escrita-tudo-o-que-voce-precisa-saber/
- https://www.colegiosantafe.net/post/psicogenese-da-lingua-escrita
- FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.
- FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. 24. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
- MENDONÇA, O. Schwartz e MENDONÇA, O. Correa. Psicogênese da Língua Escrita:
Contribuições, equívocos e Consequências para a alfabetização. Unesp, Presidente Prudente e
Assis, p3. 36-57, 2011.
[…] Para complementar e ampliar o conhecimento sobre os processos da Lecto-escrita, leia o artigo sugerido no link. https://serpsicopedagoga.com.br/psicogenese-da-lingua-escrita-2/ […]