Escrita

A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA NAS SÉRIES INICIAIS

A construção da escrita nas séries iniciais se dá por meio de diferentes etapas, que envolvem desde desenhos e garatujas até a representação simbólica da língua falada. Portanto, a aquisição da linguagem escrita representa um processo de formação do indivíduo, desenvolvido por meio de sua interação com o ambiente que o rodeia. Esse processo de construção da escrita se inicia muito antes de sua entrada no ambiente escolar, através da linguagem oral e das técnicas de pré-escrita. Assim, a escrita, enquanto uma das tecnologias mais antigas da humanidade, desempenha um papel fundamental nesse contexto, desse modo é importante que os professores compreendam as diferentes etapas desse processo, e como os níveis de construção da escrita se dá, para promover uma alfabetização eficaz.

O artigo, abordará a origem da escrita e as transformações que ocorreram desde o seu surgimento até os dias atuais. O propósito consiste em elucidar os conhecimentos que se evidenciam na fase inicial da escrita e examinar o processo de construção desse conhecimento. Será abordado alguns pontos que estão elencados abaixo:

Principais pontos de destaque desse artigo:
  • A História da Construção da Escrita na Antiguidade;
  • A Escrita: Uma evolução da Humanidade;
  • A Aquisição da Escrita nas Séries Iniciais;
  • A Aquisição da Escrita Segundo Ferreiro e Teberosky;
  • Estágios da Construção da Escrita;
  • A Importância da Avaliação e Registro de Acordo com a Psicogênese da Escrita;
  • O Papel do Professor Alfabetizador;
  • Os Pilares do Desenvolvimento Cognitivo: A Teoria Construtivista de Piaget
  • A Concepção Psicogenética e Interacionista na Aquisição da Escrita.

1. A Histórica da Construção da Escrita na Antiguidade

A trajetória histórica do processo de construção da escrita na antiguidade, acompanhou as mudanças econômicas, políticas, sociais e educacionais ao longo do tempo. Desde a antiguidade até os dias atuais, houve transformações significativas no processo de aprendizagem da escrita.

O marco inicial da história da escrita remonta à pré-história, quando o homem pré-histórico fazia leituras dos sinais da natureza e os interpretava e tentava reproduzir mensagens nas pedras e rochas. Houve, a representação por meio dos desenhos, em determinada ordem, em que cada desenho tinha um significado. Essa forma de representar o mundo foi utilizada por diferentes povos, em diferentes épocas.

Assim, nossos antepassados utilizavam as paredes das cavernas como tela para registrar visualmente suas experiências e pensamentos. Essas expressões artísticas, conhecidas como pinturas rupestres, desempenharam um papel crucial na comunicação primitiva, servindo como uma espécie de linguagem visual que transmitia ideias, desejos e necessidades fundamentais dessas comunidades antigas.

As pinturas rupestres representavam mais do que simples imagens; eram narrativas visuais que contavam histórias sobre caças bem-sucedidas, rituais sagrados e a vida cotidiana. Embora essa forma incipiente de comunicação não tenha alcançado a padronização e organização associadas às escritas mais avançadas, como conhecemos hoje, ela estabeleceu os alicerces para o desenvolvimento futuro da linguagem e da comunicação.

Essa expressão artística primitiva foi o ponto de partida, o embrião da escrita, marcando não apenas a evolução da comunicação entre os seres humanos, mas também representando uma importante etapa na construção da complexa rede simbólica que viria a caracterizar as diversas formas de escrita ao longo da história. Aos poucos, os sinais desenhados foram perdendo a analogia com o objeto que representavam e evoluíram para outras formas.

De acordo com os registros históricos, os sistemas de escrita emergiram de maneira autônoma e em épocas diversas, originando-se em distintas civilizações que moldaram a trajetória da comunicação escrita. Essa evolução independente de sistemas alfabéticos e ideográficos ocorreu em sociedades tão diversas quanto a Mesopotâmia, a China, o Egito e as culturas da América Central. A seguir descreveremos a evolução da escrita por esse povos.

Trajetória da Escrita nas Distintas Civilizações:

1. Escrita da Mesopotâmia

O início da prática da escrita remonta à antiga civilização mesopotâmica (berço da civilização suméria), localizada na região atual do Iraque, sendo atribuída principalmente aos povos sumérios. Por volta de 4.000 a.C., esses povos desenvolveram a escrita cuneiforme, ou seja, um sistema complexo que utilizava símbolos em forma de cunha geralmente feita de metal ou madeira dura. As representações cotidianas eram gravados em tabuletas de argila, utilizando cerca de 2000 símbolos, todos escritos da direita para a esquerda. As inscrições serviam como meio de registro contábil, documentação legal e narração de mitos e histórias.

A escrita cuneiforme, ao longo de aproximadamente três mil anos, foi adotada por quinze línguas distintas, incluindo o sumério, o persa e o sírio. Seu uso se estendeu por diferentes civilizações do Oriente Médio, contribuindo para a disseminação da prática da escrita.

2. Escrita da China

A evolução da escrita na China, à semelhança de outras civilizações, evidencia um desenvolvimento autônomo com a criação de seu próprio sistema há mais de 3 mil anos. Antes da introdução do papel, invenção atribuída aos chineses, diversos recursos foram empregados para a prática da escrita. O sistema de escrita chinês adota um símbolo para cada entidade, configurando-se como um sistema ideográfico, empregando caracteres complexos que representavam conceitos e palavras, marcando a rica tradição literária e filosófica do país. Com um vasto repertório de mais de 160 mil ideogramas, ao longo dos anos, muitos desses caracteres passaram por modificações, priorizando traços fundamentais. Atualmente, entre 5.000 e 8.000 caracteres são comumente utilizados, sendo que aproximadamente 3.000 são empregados nas atividades cotidianas.

3. Escrita do Egito

Próxima à era em que os sumérios introduziram a escrita cuneiforme, a civilização egípcia também testemunhou o desenvolvimento de seus próprios sistemas de escrita, os hieróglifos. Eles eram inscritos em monumentos e papiros, desempenhando um papel crucial na preservação de registros históricos, religiosos e culturais. Na sociedade egípcia, emergiram duas formas distintas de expressão escrita. Uma delas, conhecida como escrita demótica, apresenta uma técnica mais acessível e popular, enquanto a outra, a escrita hieroglífica, é mais complexa, caracterizada por desenhos e símbolos e associada a contextos sagrados em túmulos e templos.

Os egípcios utilizavam as paredes das pirâmides como suporte para inscrições textuais, retratando a vida dos faraós, preces e mensagens destinadas a dissuadir possíveis invasores. Para a escrita, empregavam um material denominado papiro, confeccionado a partir de uma planta homônima. Nos primórdios, a prática da escrita no Egito era uma responsabilidade dos escribas, uma classe de especialistas altamente treinados. Esses escribas, também conhecidos como escrivães, desempenhavam um papel proeminente na sociedade, atuando como intermediários entre o faraó, os funcionários do governo, os sacerdotes e o povo. Seu status requeria um rigoroso processo de formação, conferindo-lhes uma posição distinta na estrutura social.

4. Escrita da Roma Antiga

Na Roma Antiga, onde o alfabeto romano foi formalmente estabelecido, as primeiras formas de escrita consistiam exclusivamente em letras maiúsculas. Inicialmente, a transmissão textual ocorria em pergaminhos, feitos a partir de peles de animais, como cabras, carneiros, ovelhas e cordeiros. Para a execução dessa prática, eram utilizadas hastes de bambu, penas de patos e de outras aves.

Com o passar do tempo, observaram-se alterações no alfabeto romano em sua configuração original. Surgiu, então, um novo estilo de escrita conhecido como escrita uncial, que se destacou e permaneceu em uso até o século VIII. Essa forma de escrita foi especialmente empregada na produção de Bíblias manuscritas, evidenciando sua relevância nas práticas de escritura da época. Essas adaptações no alfabeto romano refletem não apenas a evolução das técnicas de escrita, mas também a influência cultural e religiosa que permeava a sociedade romana.

5. Escrita da América Central

Na região da América Central, as civilizações dos maias e astecas desenvolveram sistemas de escrita próprios, constituindo registros significativos de sua cultura e conhecimento. Contudo, a chegada dos europeus à região, marcada por invasões e conquistas, resultou na destruição de uma considerável parte dos documentos escritos por esses povos antigos. A escrita maia, caracterizada pelo uso de hieróglifos e símbolos, era especialmente elaborada e utilizada para registrar eventos históricos, conhecimentos científicos e práticas religiosas.

Os astecas, por sua vez, empregavam um sistema de escrita conhecido como nahuatl, que teve início por volta do século XIII. No entanto, o processo de decifração dessa escrita ainda não foi completamente concluído pelos pesquisadores, representando um desafio intrigante para a compreensão completa da riqueza cultural e histórica desses povos.

Os maias e astecas, tinham um sistemas de escrita elaborados e foram utilizados para registrar sua complexa cosmovisão, avançados conhecimentos matemáticos e observações astronômicas. Assim, a multiplicidade de sistemas de escrita que apareceram em diferentes partes do mundo testemunha a diversidade cultural e intelectual, evidenciando a riqueza da comunicação escrita ao longo da história da humanidade.

Veja o vídeo do Iuri Farias sobre a História da Escrita:

2. A Escrita: Uma Evolução da Humanidade

A construção da escrita teve o seu marco histórico a milhares de anos, quando o homem sentiu a necessidade de registar os acontecimentos do dia-a-dia, e também documentar as operações rudimentares de comércio e tantas outras atividades da vida.

Enquanto ser social, o homem, ao longo da história, foi encontrando uma forma de registar as suas experiências e vivências e, gradualmente, foi evoluindo do desenho que o homo sapiens fazia nas grutas para uma forma mais funcional, desenvolvida também para guardar os registros de contas e trocas comerciais. A escrita tornou-se um instrumento de valor inestimável para a difusão de ideias e informações. 

O surgimento da escrita é um marco importante na evolução da humanidade, representando uma transição significativa de formas de comunicação mais simples para a complexidade das linguagens simbólicas. Inicialmente motivada pela necessidade de registrar transações comerciais e eventos importantes, a escrita desempenhou um papel fundamental na preservação e disseminação do conhecimento ao longo dos séculos.

Os primeiros sistemas de escrita desenvolvidos pelas civilizações antigas, como os hieróglifos egípcios, a escrita cuneiforme suméria e os caracteres chineses, revelam a diversidade e a criatividade humanas na expressão de ideias por meio de símbolos. Esses sistemas não apenas permitiram a comunicação além das barreiras temporais e geográficas, mas também foram fundamentais para o desenvolvimento de culturas e sociedades.

Ao longo dos milênios, a escrita evoluiu, adaptando-se aos contextos culturais e tecnológicos. Desde os antigos papiros até os pergaminhos medievais e, finalmente, o advento da imprensa, a escrita tem sido um veículo poderoso para a transmissão de conhecimento, preservação de tradições e promoção da educação. A história da escrita é, portanto, intrinsecamente ligada à história da humanidade, refletindo seu progresso, sua diversidade cultural e sua busca incessante por registrar e compartilhar experiências.

Em época bastante remota, homens e mulheres utilizam figuras para representar cada objeto. Esta forma de expressão é chamada pictográfica. Para contextualizar o início da escrita, referimo-nos aos estudos de Cagliari (1989), que descreve as fases pictórica, ideográfica e alfabética.

A fase pictórica apresenta uma escrita bem simplificada dos objetos da realidade, por meio de desenhos que podem ser vistos nas inscrições astecas presentes em cavernas, ou nas inscrições de cavernas do noroeste do Brasil. Esse sistema de comunicação expressava apenas as ideias visuais, inicialmente não apresentava uma relação com a fala. Esta surgiu acompanhada de um notável desenvolvimento das artes na visão de Cócco e Hailler (1995, p. 45). 

A escrita pictográfica, empregada de maneira proeminente pelos astecas, revela uma fascinante expressão cultural que transcende as limitações linguísticas tradicionais. Essa forma de escrita é distintamente marcada pela utilização de desenhos e imagens que representam não apenas objetos, mas também as ações e experiências fundamentais para a sociedade da época. Os pictogramas astecas eram, portanto, um meio eficaz de comunicação que transcendia as barreiras linguísticas, permitindo que as mensagens fossem compreendidas por diferentes grupos étnicos e comunidades.

Cada pictograma asteca carregava consigo não apenas significados superficiais, mas também nuances culturais e simbólicas profundas. Eles eram utilizados para documentar eventos históricos, rituais religiosos, transações comerciais e narrativas mitológicas. A riqueza desses símbolos ia além da mera representação visual, incorporando camadas de significado que enriqueciam as comunicações e contribuíam para a preservação da identidade cultural asteca.

Além disso, os pictogramas astecas não eram apenas instrumentos de comunicação, mas também elementos estéticos que refletiam a visão de mundo e a criatividade artística desse povo. Cada desenho carregava consigo uma história, uma tradição e uma conexão profunda com a espiritualidade, destacando a complexidade e a sofisticação dessa forma única de escrita na rica tapeçaria da história cultural mesoamericana.

Após, surgiu à escrita ideográfica, que não utilizava apenas rabiscos e figuras associados à imagem que se queria registrar, mas sim uma imagem ou figura que representasse uma ideia, tornando-se posteriormente uma convenção de escrita. Os leitores dependiam do contexto e do senso comum para decifrar o significado. As letras do nosso alfabeto vieram desse tipo de evolução. Algumas escritas ideográficas mais conhecidas são os hieróglifos egípcios, as escritas sumérias, minoica e chinesa, da qual provém a escrita japonesa.

Depois essa escrita passa a associar símbolos fonéticos, ainda sem nenhuma vogal, com os seus referentes: é a chamada escrita fonética. Os fenícios inventaram um sistema reduzido de caracteres que representavam o som consonantal, característica das línguas semíticas encontrada hoje na escrita árabe e hebraica. Adaptaram o alfabeto fonético egípcio a língua fenícia e criaram o alfabeto de 24 letras.

Em seguida, os gregos adaptaram o sistema de escrita fenícia agregando as vogais e criando assim a escrita alfabética. (Alfabeto, palavra derivada de alfa e beta, as duas primeiras letras do alfabeto grego.) Posteriormente, a escrita grega foi adaptada pelos romanos, constituindo-se o sistema alfabético greco-romano, que deu origem ao nosso alfabeto. Esse sistema representa o menor inventário de símbolos que permite a maior possibilidade combinatória de caracteres, isto é, representação dos sons da fala em unidades menores que a sílaba. 

A escrita é um código e representa o que se pensa ou se fala. Ela foi evoluindo paulatinamente através da necessidade de cada povo em querer desvendar e interpretar sua forma de comunicação, sendo esta necessária para o conhecimento humano, passando a ser um marco histórico da passagem entre a Pré-História e a História.

Os sistemas de escrita podem ser basicamente ideográficos ou fonográficos. Um sistema ideográfico se baseia nos significados que deseja transmitir, por isso geralmente é pictográfico. As ideias são representadas por sinais , que não dependem da língua falada, mas sim dos conhecimentos culturais do contexto em que está inserido. Por exemplo: uma placa de transito, um logotipo, um rótulo, e etc.

Um sistema fonográfico se baseia nos significantes e depende diretamente dos elementos sonoros de uma língua. As ideias são representadas graficamente por sinais convencionais (letras) que reproduzem os sons dos vocábulos correspondentes na língua falada.

3. A Aquisição da Escrita nas Séries Iniciais

A aquisição da escrita nas séries iniciais é um processo determinante no desenvolvimento da criança, transcendendo a mera decodificação de símbolos, e se configurando como um processo multifacetado que abre portas para o conhecimento e a expressão individual para o desenvolvimento das habilidades linguísticas. Antes mesmo de entrar na escola, a criança já está imersa na linguagem oral, interagindo em diversas situações e adquirindo o entendimento do que é falado. Durante os primeiros anos de seu desenvolvimento, ela se apropria de diversas técnicas e habilidades que a preparam para a escrita, facilitando assim o aprendizado do conceito e da técnica da escrita.

Ao iniciar o processo de alfabetização as crianças pensam que a escrita é a representação daquilo que fala. De fato, essa correspondência inicialmente, é aceitável, pois é uma hipótese que a criança constrói acerca do que a escrita representa. Essa concepção de escrita construída pela criança vai se modificando durante o processo de construção de novas hipóteses sobre este objeto de conhecimento. Quando um aprendiz atinge a hipótese alfabética, ele já é capaz de escrever estabelecendo correspondência entre o falado (fonemas) e o escrito (grafemas).

A partir desse momento se começa a trabalhar o fato de que nem tudo que se fala tem uma correspondência idêntica na escrita. Durante essa fase, as crianças constroem hipóteses sobre a escrita, que são observadas e categorizadas de acordo com as alterações ortográficas presentes em seus textos. No entanto, deve-se sinalizar ao aprendente que se na fala temos mais liberdade de expressão, ao escrever é necessário ter um maior cuidado e atenção, pois a escrita depende de certas convenções. 

O desenvolvimento do grafismo infantil não deve ser considerado como fruto apenas do treinamento específico. Ele é um processo de construção do sistema de representação que culmina com a produção da escrita como um instrumento de comunicação e expressão (MARTINS, 2007, pág.01). A criança dá os primeiros passos na comunicação escrita por meio da pictografia, expressando-se inicialmente através de desenhos. Antes de adquirir pleno conhecimento sobre o ato de escrever, ela explora essa forma de expressão, combinando letras e desenhos ao longo do desenvolvimento da escrita.

Nessa fase, a criança experimenta intuitivamente como formar palavras, ainda que seu entendimento sobre o funcionamento do sistema de escrita esteja em processo de formação. O processo de escrita tem início mesmo antes da criança ingressar na escola, e é por meio dos rabiscos e desenhos que ela vivencia as primeiras experiências relacionadas ao ato de escrever.

Como mencionado anteriormente, o desenvolvimento da escrita percorre várias etapas, e por volta dos três a quatro anos, a criança progride além dos rabiscos, passando a desenhar círculos. Nessa fase, a repetição desempenha um papel crucial, levando a criança a criar diversos tipos de círculos, alguns mais amplos, outros mais estreitos, contribuindo assim para o desenvolvimento de sua mente. A partir desse ponto, ela começa a representar figuras humanas de maneira simplificada, usando formas de palito ou criando desenhos que se assemelham a girinos.

Nesse momento, ela também explora outras formas, como ziguezagues, bolas de diferentes tamanhos. Quando questionada sobre seus desenhos, a criança oferece inúmeras interpretações, identificando suas representações como a mãe, o cachorro, escrevendo até mesmo seu próprio nome, entre outras possibilidades. Esse processo não apenas aprimora suas habilidades visuais e motoras, mas também estimula a expressão criativa e a capacidade interpretativa.

Segundo Greig (2004) apud Martins (2007), quando a criança tem o primeiro contato com a folha surgem às garatujas, depois passa pela fase dos rabiscos, o movimento circular e o vaivém. Mais tarde passa do gesto ao traçado, esta fase denominada por Greig de marcas. Na medida em que a criança faz associações, gestos e traços desenvolvem a atividade mental.

Para os professores das séries iniciais, o estudo da aquisição da escrita é essencial, pois eles devem trabalhar as convenções ortográficas, isto é, o ensino da norma ortográfica da língua portuguesa, criada para unificar o modo de escrever, na tentativa de facilitar o entendimento do que se lê. Compreender as hipóteses de escrita das crianças e auxiliá-las na construção da norma ortográfica é um desafio e ao mesmo tempo uma oportunidade de promover uma aprendizagem significativa.

Concluímos que no processo de desenvolvimento da escrita, observamos uma progressão na utilização e diferenciação das marcas gráficas e símbolos pelas crianças, que iniciam com rabiscos e linhas, evoluindo para figuras, imagens e registros gráficos que incorporam letras. Compreendendo que essa mudança geralmente ocorre nos últimos anos da educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental, reconhecemos suas amplas implicações no processo de alfabetização durante essa fase. Vale ressaltar que o estudo da aquisição da escrita nas séries iniciais é uma área em constante evolução e pesquisa. Novas abordagens e estratégias pedagógicas estão sempre sendo desenvolvidas para auxiliar os professores nesse processo tão importante para o desenvolvimento das crianças.

Através da escrita, a criança desenvolve habilidades essenciais para a vida, como:

1. Comunicação:

  • A escrita permite que a criança expresse seus pensamentos, ideias e sentimentos de forma clara e organizada.
  • Ela desenvolve a capacidade de se comunicar com outras pessoas, tanto na forma oral quanto na escrita.
  • A comunicação eficaz é fundamental para o sucesso em diversas áreas da vida, como na vida pessoal, profissional e acadêmica.

2. Criatividade:

  • A escrita oferece à criança a oportunidade de explorar sua criatividade e imaginação.
  • Através da escrita, ela pode criar histórias, poemas, contos e outros tipos de textos.
  • A criatividade é uma habilidade essencial para a resolução de problemas, a inovação e o desenvolvimento de novas ideias.

3. Pensamento Crítico:

  • A escrita exige que a criança organize seus pensamentos e ideias de forma lógica e coerente.
  • Ela precisa analisar, sintetizar e avaliar informações antes de escrever.
  • O desenvolvimento do pensamento crítico é fundamental para a tomada de decisões, a resolução de problemas e a compreensão do mundo ao seu redor.

4. Autoestima:

  • A escrita permite que a criança se sinta confiante e capaz de expressar suas ideias.
  • Ao ver seus textos escritos, ela se sente orgulhosa de suas conquistas.
  • A autoestima elevada é fundamental para o desenvolvimento emocional da criança e para o seu sucesso na vida.

5. Autonomia:

  • A escrita permite que a criança se torne mais autônoma e independente.
  • Ela pode escrever sobre seus próprios interesses e experiências, sem depender de outras pessoas.
  • A autonomia é fundamental para o desenvolvimento da identidade da criança e para a sua capacidade de tomar decisões.

6. Integração Social:

  • A escrita permite que a criança se integre ao mundo social e cultural.
  • Ela pode participar de atividades em grupo, como a produção de textos coletivos.
  • A integração social é fundamental para o desenvolvimento da criança e para a sua formação como cidadão.

7. Preparo para o Futuro:

  • A escrita é uma habilidade essencial para o sucesso na vida acadêmica e profissional.
  • A criança que aprende a escrever desde cedo estará mais bem preparada para os desafios do futuro.

Concluímos que:

A aquisição da escrita nas séries iniciais é um processo fundamental para o desenvolvimento integral da criança. Através da escrita, ela desenvolve habilidades essenciais para a vida, como a comunicação, a criatividade, o pensamento crítico, a autoestima, a autonomia, a integração social e o preparo para o futuro. Cabe aos pais, professores e demais profissionais da educação proporcionar à criança um ambiente rico em experiências que favoreçam o desenvolvimento da escrita e o seu potencial como ser humano.

Alterações ortográficas na escrita infantil

4. A Aquisição da Escrita Segundo Ferreiro e Teberosky

O conhecimento acerca da psicogênese da escrita é primordial para um bom desenvolvimento do trabalho de alfabetização. Ferreiro (1991) conduziu uma pesquisa visando compreender os processos mentais envolvidos na escrita infantil. Os resultados de sua investigação indicam que o desenvolvimento da escrita é um processo construtivo que se vincula ao progresso cognitivo, afetivo e social da criança.

A área de estudo referente aos processos de aquisição/aprendizagem da língua escrita ganhou nova conformação a partir das pesquisas psicogenéticas desenvolvidas por Ferreiro e Teberosky (1984). Fundadoras de uma teoria de aquisição da escrita, as autoras se inspiram, de um lado, nos avanços dos estudos sobre a linguagem filiados à perspectiva gerativista e, de outro, no legado construtivista piagetiano, extraindo de ambos os programas investigativos subsídios para a psicogênese da escrita. Desde a perspectiva psicogenética, as investigações, que se encontravam mais voltadas à discussão de procedimentos de ensino, passam a assumir a tarefa de encaminhar discussões que focalizam especialmente aspectos referentes aos processos de aquisição.

Ao introduzirem uma linha de investigação evolutiva no campo da escrita, Ferreiro e Teberosky  trazem a possibilidade de melhor se entender a questão específica da escrita, até então ausente das pesquisas feitas pela Linguística, pela Psicologia, pela Pedagogia. Ferreiro oferece-nos um instrumental de possibilidades de ver a criança no seu processo de aquisição da escrita, de verificar o que ela sabe e o que ela não sabe, porque é no que ela ainda não sabe, no que ela pode e tem condições de fazer com ajuda, com interferência do adulto, que o professor vai atuar.

A aprendizagem da leitura e da escrita não se dá espontaneamente; ao contrário, exige uma ação deliberada do professor e, portanto, uma qualificação de quem ensina. Exige planejamento e decisões a respeito do tipo, frequência, diversidade, sequência das atividades de aprendizagem. Segundo Ferreiro (2008), ler e escrever é um ato comunicativo verbal, que pode sofrer mudanças culturais relacionadas ao sistema alfabético que determina diferenças na organização da língua escrita e falada e que gera uma expectativa sociocultural. Elas são responsáveis pela comunicação escrita, falada, auditiva e visual. 

As autoras categorizaram a construção da escrita em diferentes níveis: Pré-silábico, Intermediário I, Silábico, Silábico-alfabético ou Intermediário II, e Alfabético. Esses níveis refletem a relação entre a linguagem falada e escrita e devem ser compreendidos pelos professores para registrar a aprendizagem da criança de forma adequada. Entender a psicogênese da escrita é fundamental para os professores acompanharem o desenvolvimento das crianças e adotarem estratégias pedagógicas adequadas. Além disso, conhecer os diferentes níveis de construção da escrita permite uma avaliação mais precisa do progresso dos alunos e auxilia na identificação de possíveis dificuldades.

5. Estágios de Construção da Escrita

Através dos resultados derivados da pesquisa conduzida por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, foram estabelecidos cinco estágios no desenvolvimento da escrita, marcados pelo momento em que o indivíduo compreende a finalidade da escrita, ou seja, reconhece sua utilidade. A habilidade de escrever surge quando se adquire conhecimento sobre a função da escrita e quando se percebe a distinção entre desenho e escrita, mesmo que, em alguns momentos, essas formas coexistam. A escrita é compreendida como uma representação gráfica com significado. Para que o estudante progrida de um estágio para outro, é fundamental que ele assimile certos conceitos com base em suas hipóteses. Observe a tabela abaixo com a descrição dos níveis e suas características:

NívelCaracterísticas
 1. Pré-silábico Desenhos e símbolos que não representam as letras e os sons da   língua   escrita.
 Intermediário IUtilização de letras isoladas que não formam palavras completas.
 2. Silábico Representação das sílabas das palavras, mas sem correspondência   exata entre sons e letras.
 3. Silábico-alfabético ou   Intermediário II Combinação de representações silábicas e alfabéticas para escrever   palavras.
 4. Alfabético Utilização correta das letras para representar as palavras, de acordo   com as regras da ortografia.

É importante ressaltar que cada criança pode passar por esses níveis em ritmos diferentes, e alguns alunos podem precisar de mais tempo e apoio para alcançar o nível alfabético. O conhecimento dos níveis de construção da escrita auxilia os educadores a oferecerem as estratégias adequadas para cada aluno, garantindo uma alfabetização eficaz. Vejamos detalhadamente os níveis da escrita de acordo com as autoras Ferreiro e Teberosky. 

1. Nível Pré-silábico: Desvendando a Escrita

Neste estágio, a criança ainda não estabelece uma relação entre a escrita e a fala (pronúncia). Sua expressão escrita ocorre por meio de desenhos, rabiscos e letras usadas de maneira aleatória. As principais hipóteses nesse estágio incluem a percepção da função social da escrita, diferenciação entre escrita e desenho, critério quantitativo (uso de muitas letras para objetos grandes e poucas para objetos pequenos), critério qualitativo (não repetição de letras) e a crença de que só nomes de coisas são escritos.

O Nível Pré-Silábico é a porta de entrada da criança no mundo mágico da escrita. É nesse nível que ela inicia sua jornada de descobertas, entendendo que a escrita vai além de rabiscos e desenhos, e que as palavras podem ser representadas por símbolos.

Características:

  • A escrita como representação da fala: A criança começa a compreender que as palavras que ela fala podem ser representadas por letras.
  • Diferença entre escrever e desenhar: Ela distingue a escrita do desenho, reconhecendo que cada um tem um propósito diferente.
  • A escrita não é uma representação direta do objeto: A criança aprende que a escrita não é uma imagem do objeto, mas sim um conjunto de símbolos que o representam.
  • Construção do texto por letras: Ela reconhece que as palavras são formadas por letras e que cada letra tem um valor sonoro.
  • Variabilidade no número de letras: A criança entende que as palavras podem ter diferentes tamanhos, com um número variável de letras.
  • Diferenciação entre letra e número: Ela distingue as letras dos números, reconhecendo que cada um tem um significado e função diferentes.

Intervenções do Alfabetizador:

  • Escrita espontânea: Incentivar a criança a escrever livremente, expressando suas ideias e criatividade.
  • Socialização das produções: Criar momentos para compartilhar os textos escritos, promovendo a interação e o aprendizado entre os alunos.
  • Nome próprio e dos colegas: Trabalhar o nome da criança e dos colegas, explorando diferentes formas de escrita e reconhecimento.
  • Jogos com figuras e palavras: Utilizar jogos que envolvam figuras e palavras, estimulando a associação entre elas.
  • Análise do som das palavras: Explorar os sons das palavras, promovendo a consciência fonológica.
  • Contato com material escrito: Proporcionar o contato com diferentes tipos de materiais escritos, como livros, revistas e jornais.
  • Função social da escrita: Mostrar a função social da escrita por meio de situações reais de comunicação.
  • Exploração das produções textuais: Analisar os textos escritos pelos alunos, identificando seus avanços e necessidades.
  • Textos memorizados: Trabalhar com textos memorizados, utilizando a leitura apontada para auxiliar na compreensão.
  • Dificuldades individuais: Atender às dificuldades de cada aluno de forma individualizada, oferecendo suporte e orientação.

Conclusão:

O Nível Pré-Silábico é um período crucial na alfabetização, onde a criança estabelece as bases para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Através de intervenções adequadas e motivadoras, o alfabetizador pode guiar a criança nessa jornada, abrindo portas para um mundo de conhecimento e possibilidades.

2. Nível Silábico: Desvendando os Segredos da Escrita

A criança começa a desenvolver a consciência da relação entre fala e escrita, buscando atribuir valor sonoro a letras e símbolos para representar palavras. Neste estágio, cada sílaba pronunciada resulta em uma letra escrita, ou cada palavra em uma frase dita corresponde a uma letra. A criança ainda utiliza critérios quantitativos e qualitativos, semelhantes ao nível pré-silábico.

O Nível Silábico marca uma etapa empolgante na jornada da criança no mundo da escrita. É neste nível que ela desvenda os segredos das letras e sons, construindo pontes entre a fala e a escrita.

Características:

  • A letra como menor unidade da palavra: A criança compreende que a letra é a menor parte que compõe as palavras.
  • Vinculação sonora das palavras: Ela reconhece a relação entre os sons das letras e a forma como as palavras são escritas.
  • Relação entre fonema e grafema: Ela estabelece a ponte entre os fonemas (sons) e os grafemas (letras) que os representam.
  • Escrita diferenciada para palavras diferentes: A criança aprende que cada palavra possui uma escrita específica.
  • Superação de critérios prévios: Ela deixa de lado a quantidade de letras como base para a escrita, reconhecendo que letras podem se repetir em uma mesma palavra.

Intervenções do Professor:

  • Análise da constituição das palavras: Explorar a estrutura das palavras, separando-as em sílabas e letras.
  • Reconhecimento dos sons das letras: Identificar os sons das letras de forma isolada e combinada.
  • Utilização de letras móveis: Manipular letras móveis para formar palavras, explorando diferentes combinações.
  • Trabalho com rimas: Brincar com rimas para identificar sons iguais em palavras diferentes.
  • Observação da escrita dos alunos: Incentivar a autoavaliação, confrontando a escrita com a forma correta e identificando erros e acertos.
  • Leitura com apoio: Leitura de textos, mesmo que a criança não domine a leitura fluente, utilizando memorização e ilustrações como apoio.

Dicas para o Professor:

  • Crie um ambiente rico em materiais escritos: Explore livros, revistas, cartazes e outros materiais para estimular a familiaridade com a escrita.
  • Promova atividades lúdicas: Utilize jogos, brincadeiras e músicas para tornar o aprendizado divertido e prazeroso.
  • Adapte as atividades ao ritmo individual: Respeite as diferenças de cada aluno e ofereça atividades desafiadoras e motivadoras.
  • Incentive a participação da família: Envolva os pais no processo de alfabetização, sugerindo atividades para serem realizadas em casa.

Conclusão:

O Nível Silábico é um passo fundamental para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Através da orientação e do incentivo do professor, a criança se aproxima cada vez mais da conquista da escrita alfabética, abrindo portas para um mundo de conhecimento e possibilidades.

3. Nível Silábico-alfabético: Desbravando os Códigos da Escrita

Esta fase representa uma transição do nível silábico para o alfabético. A escrita torna-se quase alfabética, com a criança começando a escrever algumas sílabas de maneira alfabética, enquanto outras permanecem silábicas. Surge a percepção de que uma sílaba pode ter duas ou mais letras, mas a separação de palavras em frases ou textos ainda apresenta desafios.

O Nível Silábico-Alfabético é um momento crucial na jornada da alfabetização, onde a criança consolida seu domínio da escrita. Ela deixa de lado a lógica silábica e se aproxima da escrita alfabética convencional, desvendando os segredos da ortografia e da construção textual.

Características:

  • Domínio da relação fonema-grafema: A criança reconhece a relação entre os sons (fonemas) e as letras (grafemas) que os representam.
  • Compreensão da estrutura silábica: Ela entende que as sílabas podem ter diferentes tamanhos, com duas, três ou mais letras.
  • Segmentação textual: A criança aprende a separar as palavras ao escrever um texto, reconhecendo seus limites.
  • Preocupação ortográfica: Ela demonstra interesse pela escrita correta das palavras, buscando a forma ortográfica adequada.

Intervenções do Educador:

  • Propiciar conflitos cognitivos: Criar situações desafiadoras que levem a criança a questionar suas hipóteses sobre a escrita e busquem soluções mais complexas.
  • Exploração de jogos e atividades lúdicas: Utilizar jogos, cruzadinhas, reconstituição de textos e outras atividades para tornar o aprendizado divertido e interativo.
  • Leitura e produção textual: Estimular a leitura de diferentes tipos de textos e a produção de textos variados, como histórias, poemas e relatos.
  • Consciência fonológica: Trabalhar a consciência fonológica, explorando os sons das palavras e suas relações com a escrita.
  • Análise e reflexão sobre a escrita: Incentivar a análise e a reflexão sobre a escrita, levando a criança a pensar sobre como as palavras são formadas e como podem ser melhoradas.

Dicas para o Educador:

  • Crie um ambiente rico em materiais escritos: Explore livros, revistas, cartazes e outros materiais para estimular a familiaridade com a escrita.
  • Promova atividades lúdicas: Utilize jogos, brincadeiras e músicas para tornar o aprendizado divertido e prazeroso.
  • Adapte as atividades ao ritmo individual: Respeite as diferenças de cada aluno e ofereça atividades desafiadoras e motivadoras.
  • Incentive a participação da família: Envolva os pais no processo de alfabetização, sugerindo atividades para serem realizadas em casa.

Conclusão:

O Nível Silábico-Alfabético representa um marco importante na alfabetização, consolidando a compreensão da escrita e abrindo portas para o desenvolvimento da leitura e da escrita fluente. Com o apoio e a orientação do educador, a criança se aproxima cada vez mais da escrita convencional, expandindo suas possibilidades de expressão e comunicação.

4. Nível Alfabético: Dominando a Escrita Convencional

Neste estágio, o aluno domina a relação entre letra, sílaba e som, compreendendo as regularidades da língua. Há uma conexão sonora entre palavras, e a escrita reflete a forma como as palavras são faladas. A criança pode misturar as hipóteses alfabética e silábica, enfrentando dificuldades ortográficas e problemas relacionados à pronúncia.

O Nível Alfabético marca o ápice da jornada da criança no mundo da escrita. É nesse nível que ela conquista a escrita convencional, dominando as regras ortográficas e gramaticais da língua.

Características:

  • Consciência da escrita como representação da fala: A criança reconhece que a escrita representa a fala, mas que nem sempre a pronúncia corresponde à forma escrita.
  • Autoavaliação da escrita: Ela confronta seus próprios escritos com a escrita convencional, identificando erros e buscando aperfeiçoar a grafia das palavras.
  • Domínio das normas ortográficas: A criança aprende e aplica as regras ortográficas da língua portuguesa, escrevendo as palavras de forma correta.
  • Uso da escrita como ferramenta de comunicação: Ela utiliza a escrita para se comunicar de forma clara, precisa e eficaz em diferentes contextos.

Intervenções do Alfabetizador:

  • Exposição às normas convencionais da língua: Mostrar à criança as regras ortográficas e gramaticais da língua portuguesa, utilizando materiais como dicionários e gramáticas.
  • Situações de aprendizagem desafiadoras: Propor situações que levem a criança a usar a escrita para resolver problemas e aprender novos conhecimentos.
  • Incentivo à leitura: Estimular a leitura de diferentes tipos de textos, para que a criança possa conhecer as regularidades e irregularidades da língua.
  • Feedback construtivo: Oferecer feedback positivo e construtivo sobre a escrita da criança, reconhecendo seus avanços e ajudando-a a superar suas dificuldades.
  • Trabalho com a produção textual: Orientar a criança na produção de diferentes tipos de textos, como histórias, poemas, e-mails e cartas.

Dicas para o Alfabetizador:

  • Crie um ambiente rico em materiais escritos: Explore livros, revistas, cartazes e outros materiais para estimular a familiaridade com a escrita.
  • Promova atividades lúdicas: Utilize jogos, brincadeiras e músicas para tornar o aprendizado divertido e prazeroso.
  • Adapte as atividades ao ritmo individual: Respeite as diferenças de cada aluno e ofereça atividades desafiadoras e motivadoras.
  • Incentive a participação da família: Envolva os pais no processo de alfabetização, sugerindo atividades para serem realizadas em casa.

Conclusão:

O Nível Alfabético representa a culminação da alfabetização, com a criança dominando a escrita convencional e abrindo portas para um mundo de possibilidades de expressão e comunicação. O papel do alfabetizador é fundamental para guiar a criança nesse processo, oferecendo-lhe ferramentas e recursos para que ela se torne um escritor proficiente e autônomo.

5. Nível Ortográfico: Dominando as Nuances da Língua Portuguesa

Este estágio representa uma fase contínua de construção, em que ocorre a aquisição e o domínio das irregularidades da língua ao longo da vida. O desenvolvimento ortográfico continua a evoluir, refletindo um processo constante de aprimoramento na escrita.

O Nível Ortográfico, etapa final da jornada da escrita, marca a conquista da fluência e da maestria na língua. O aluno, agora um escritor experiente, navega pelas nuances da ortografia, reconhecendo suas irregularidades e buscando aperfeiçoar seu domínio com entusiasmo e persistência.

Características:

  • Consciência das irregularidades da língua: O aluno compreende que a língua portuguesa possui regras, mas também exceções, tornando o aprendizado da ortografia um processo contínuo e empolgante.
  • Busca incessante pelo aprimoramento: Motivado pelo desejo de escrever com excelência, o aluno busca constantemente dominar as irregularidades ortográficas.
  • Uso estratégico das ferramentas gramaticais: Ele reconhece o poder da ortografia para comunicar-se com clareza, precisão e impacto, utilizando os recursos gramaticais de forma estratégica.
  • Expressão individual autêntica: A escrita torna-se um instrumento para o aluno expressar sua individualidade e criatividade, explorando diferentes estilos e gêneros textuais.

Intervenções do Professor:

  • Análise de textos literários: Mergulhar em obras literárias permite que os alunos observem como autores renomados utilizam as normas da língua de forma criativa e expressiva.
  • Desafios ortográficos: Criar situações desafiadoras, como jogos, quizzes e atividades de escrita, estimula os alunos a explorar as regras ortográficas de forma divertida e interativa.
  • Exploração de diferentes gêneros textuais: Incentivar a produção de textos em diferentes gêneros, como notícias, contos, poemas e crônicas, permite que os alunos apliquem seus conhecimentos ortográficos em contextos variados.
  • Feedback construtivo e individualizado: Oferecer feedback personalizado sobre a escrita de cada aluno, reconhecendo seus avanços e auxiliando-o na superação de suas dificuldades, é fundamental para o desenvolvimento individual.
  • Utilização de recursos tecnológicos: Ferramentas online como dicionários, gramáticas e aplicativos de correção ortográfica podem ser grandes aliados no processo de aprendizado.

Dicas para o Professor:

  • Crie um ambiente rico em materiais escritos: Explore livros, revistas, cartazes e outros materiais para estimular a familiaridade com a escrita.
  • Promova atividades lúdicas: Utilize jogos, brincadeiras e músicas para tornar o aprendizado divertido e prazeroso.
  • Adapte as atividades ao ritmo individual: Respeite as diferenças de cada aluno e ofereça atividades desafiadoras e motivadoras.
  • Incentive a participação da família: Envolva os pais no processo de alfabetização, sugerindo atividades para serem realizadas em casa.

Conclusão:

O Nível Ortográfico representa o ápice da escrita, com o aluno dominando as nuances da língua portuguesa e se tornando um escritor proficiente e autônomo. O professor, como um guia experiente, acompanha o aluno nessa jornada, oferecendo-lhe ferramentas e recursos para que ele explore a rica expressividade da língua e construa sua própria voz como escritor.

Lembre-se: o aprendizado da ortografia é um processo contínuo e empolgante. O importante é cultivar a paixão pela língua portuguesa e buscar sempre aprimorar suas habilidades de escrita.

6. A Importância da Avaliação e Registro de Acordo com a Psicogênese da Escrita

A compreensão dos níveis de construção da escrita é essencial para que os professores possam registrar e avaliar a aprendizagem dos alunos de forma adequada. Através do conhecimento da psicogênese da escrita, é possível identificar em qual nível de desenvolvimento cada criança se encontra e planejar intervenções pedagógicas específicas para auxiliá-la em seu processo de aprendizagem.

A avaliação e o registro são ferramentas essenciais para acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, especialmente quando se considera a perspectiva da Psicogênese da Escrita. Essa abordagem reconhece a escrita como um processo construtivo e individual, onde cada criança avança em seu próprio ritmo, passando por diferentes níveis de desenvolvimento.

1. Compreensão do Processo Individual:

A avaliação e o registro permitem que o professor compreenda o processo individual de cada aluno, identificando seus pontos fortes e fracos, suas concepções sobre a escrita e seus avanços ao longo do tempo. Essa compreensão é fundamental para o planejamento de intervenções pedagógicas adequadas às necessidades de cada criança.

2. Acompanhamento do Desenvolvimento:

Através da avaliação e do registro, o professor pode acompanhar o desenvolvimento da escrita dos alunos nos diferentes níveis da Psicogênese: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético. Essa ferramenta permite identificar em qual nível cada aluno se encontra e quais habilidades ele precisa desenvolver para avançar no processo de aprendizagem.

3. Orientação do Professor:

A avaliação e o registro fornecem informações valiosas para orientar o professor em suas decisões pedagógicas. Com base nos dados coletados, o professor pode selecionar os conteúdos mais adequados, planejar atividades desafiadoras e motivadoras e oferecer feedback individualizado para cada aluno.

4. Reflexão sobre a Prática:

A avaliação e o registro também servem como instrumentos de reflexão sobre a prática docente. Ao analisar os resultados das avaliações e os registros das produções textuais dos alunos, o professor pode identificar aspectos de sua prática que precisam ser aprimorados e buscar novas estratégias para melhorar o processo de ensino-aprendizagem.

5. Instrumentos para a Avaliação:

A Psicogênese da Escrita oferece diversos instrumentos para a avaliação da aprendizagem, como:

  • Análise de produções textuais: Observar os erros e acertos dos alunos em suas produções textuais, como a grafia das palavras, a estrutura das frases e a organização do texto, permite identificar o nível de desenvolvimento da escrita em que cada aluno se encontra.
  • Ditado: O ditado é um instrumento que permite avaliar a compreensão do sistema alfabético e a capacidade de segmentar as palavras em sons e letras.
  • Entrevista: A entrevista com os alunos sobre seus conhecimentos e concepções sobre a escrita pode fornecer informações valiosas sobre o processo individual de cada criança.
  • Observação: A observação atenta dos alunos durante as atividades de escrita pode revelar aspectos importantes sobre seu desenvolvimento, como a forma como eles escrevem, as estratégias que utilizam e as dificuldades que enfrentam.

6. Importância do Registro:

O registro sistemático das informações coletadas através da avaliação é fundamental para acompanhar o progresso dos alunos e para a reflexão sobre a prática docente. O registro pode ser feito em diferentes formatos, como:

  • Portfólios: Os portfólios reúnem produções textuais dos alunos, desenhos, registros de observações e outros materiais que permitem acompanhar o desenvolvimento da escrita ao longo do tempo.
  • Diários de classe: O professor pode registrar suas observações sobre o processo de aprendizagem dos alunos, suas dificuldades e seus avanços.
  • Fichas de acompanhamento individual: As fichas de acompanhamento individual permitem registrar informações específicas sobre cada aluno, como seu nível de desenvolvimento da escrita, suas necessidades e os objetivos de aprendizagem que precisa alcançar.

7. Considerações Finais:

A avaliação e o registro são ferramentas essenciais para acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos por meio da Psicogênese da Escrita. Ao utilizá-las de forma sistemática e reflexiva, o professor pode compreender melhor o processo individual de cada criança, orientar suas decisões pedagógicas e aprimorar sua prática docente.

Lembre-se: a avaliação e o registro não devem ser utilizados para classificar ou rotular os alunos, mas sim para ajudá-los a progredir em seu processo de aprendizagem da escrita.

Ao entrar na escola, a criança já possui uma gama de conhecimentos sobre a linguagem escrita, que foram adquiridos de forma natural e espontânea. O papel do professor é então promover situações de aprendizagem que estimulem o desenvolvimento desses conhecimentos, ampliando as habilidades de leitura e escrita dos alunos.

A aquisição da escrita ocorre em etapas que se complementam e evoluem. A criança começa a entender que as letras representam os sons da fala, depois passa a relacionar a escrita com a expressão de ideias e finalmente adquire a habilidade de escrever com coerência e domínio. É importante entender que cada criança tem seu próprio ritmo de aprendizado, e o professor deve respeitar e acompanhar esse processo individualmente.

Concluímos, com base no estudo realizado por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, que o processo de apropriação da escrita não se dá em um único momento, mas sim de maneira progressiva. O indivíduo, ao longo desse percurso, desenvolve concepções, assimila regras e normas, constrói e reconstrói hipóteses. Em outras palavras, ele atravessa diversas etapas de reflexão até alcançar a complexidade envolvida na prática da escrita.

Na tabela abaixo, colocamos as etapas de aquisição da linguagem escrita de forma resumida:

Etapas de Aquisição da Linguagem EscritaCaracterísticas
1. Pré-escrita Garatujas, desenhos e imitação da escrita.
2. Escrita pré-silábica Marcação da escrita, reprodução de letras isoladas.
3. Escrita silábica Escrita baseada na sílaba.
4. Escrita silábico-alfabética Combinação de sílabas e letras.
5. Escrita alfabética Estruturação das palavras conforme as regras ortográficas.

Compreender o processo de aquisição da linguagem escrita é essencial para que o educador possa criar estratégias pedagógicas eficazes na promoção da alfabetização. Ao reconhecer e valorizar os conhecimentos prévios das crianças, o professor estimula a construção do conhecimento de forma significativa, permitindo que elas se sintam motivadas e engajadas no processo de aprendizagem.

À medida que a criança avança nessas etapas, ela desenvolve a habilidade de se expressar por escrito de forma mais precisa e adequada.

7. O Papel do Professor Alfabetizador

O papel do professor alfabetizador é de suma importância no desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita dos alunos, pois desempenha um papel multifacetado que vai além da simples transmissão de conhecimento. Em um contexto educacional, o professor alfabetizador é um facilitador do processo de aprendizagem, atuando como guia e mediador para que os alunos construam seus próprios entendimentos sobre a língua escrita.

Uma das responsabilidades fundamentais do professor alfabetizador é criar um ambiente propício para o desenvolvimento dessas habilidades. Isso inclui a escolha de materiais didáticos adequados, a criação de atividades estimulantes e a promoção de práticas que envolvam a linguagem de maneira significativa para os alunos. Além disso, é importante que o professor compreenda, reconheça e respeite as características individuais de cada aluno, e adapte sua prática pedagógica de acordo com as necessidades e habilidades de cada um. Isso inclui realizar atividades diferenciadas, oferecer suporte individualizado e aplicar estratégias específicas para o desenvolvimento de cada estudante.

O professor tendo conhecimento das concepções que a criança desenvolve a respeito da língua escrita, torna-se um mediador, proporcionando atividades e questionamentos que levam a criança “desestruturar o pensamento”. Isto é, a duvidar de suas ideias , colocar em conflito suas certezas sobre os símbolos escritos, isso faz com que a criança compare, reflita e elabore uma nova hipótese linguística. Desse modo, através de conflito, assimilação e acomodação, o aprendiz chega à hipótese alfabética e depois, aos poucos busca o conhecimento das convenções ortográfica e gramatical.

A formação continuada do professor alfabetizador também é um elemento importante para o sucesso do processo de alfabetização. Manter-se atualizado sobre as teorias e práticas pedagógicas mais recentes na área permite ao educador incorporar abordagens inovadoras e eficazes em sua metodologia de ensino. A reflexão constante sobre as próprias práticas e a busca por aprimoramento contribuem para um ensino mais qualificado e alinhado com as demandas contemporâneas da educação.

Além disso, o professor alfabetizador desempenha um papel social significativo ao promover a inclusão e a equidade. Ao reconhecer as diversidades presentes na sala de aula, o educador deve adotar estratégias que atendam às necessidades de alunos com diferentes contextos culturais, socioeconômicos e habilidades de aprendizagem. Em última análise, o professor alfabetizador é um agente fundamental na construção do alicerce para o sucesso acadêmico e pessoal dos alunos, influenciando positivamente não apenas suas habilidades de leitura e escrita, mas também sua relação com o conhecimento e o aprendizado ao longo da vida.

8. Os Pilares do Desenvolvimento Cognitivo: A Teoria Construtivista de Piaget

A teoria de Jean Piaget, o renomado psicólogo suíço, revolucionou a forma como compreendemos o desenvolvimento da inteligência na criança. O Construtivismo de Piaget propõe que a cognição não é um processo passivo de absorção de informações, mas sim uma construção ativa realizada pela própria criança. Essa construção se dá através da interação com o meio ambiente e com as pessoas que a cercam.

Para Piaget, quatro fatores principais são essenciais para o desenvolvimento cognitivo:

1. Fator Biológico:

O crescimento orgânico e a maturação do sistema nervoso fornecem a base para o desenvolvimento das habilidades cognitivas. O cérebro da criança, em constante desenvolvimento, permite que ela explore o mundo ao seu redor e aprenda com suas experiências.

2. Fator de Experiências e Exercícios:

A criança aprende através da ação direta sobre os objetos e do contato com o mundo físico. Ao manipular objetos, explorar diferentes texturas e realizar atividades sensoriais, a criança constrói seu conhecimento sobre o mundo.

3. Fator de Interações Sociais:

A interação com outras pessoas, principalmente com adultos e educadores, é crucial para o desenvolvimento da linguagem e da capacidade de pensar. Através da comunicação e da participação em atividades sociais, a criança amplia sua visão de mundo e desenvolve suas habilidades de comunicação e colaboração.

4. Fator de Equilibração das Ações:

A criança busca constantemente adaptar seus conhecimentos às novas experiências que vive. Quando ela se depara com um desafio ou uma situação que não consegue explicar com seus conhecimentos prévios, surge um estado de desequilíbrio. Para restabelecer o equilíbrio, a criança busca novas informações e adapta seus esquemas mentais, expandindo seu conhecimento e sua capacidade de compreensão.

A interação desses quatro fatores é fundamental para o desenvolvimento da inteligência na criança. Piaget nos mostra que a criança é um ser ativo e protagonista de seu próprio aprendizado, construindo seu conhecimento através da exploração, da experimentação e da interação com o mundo ao seu redor.

Aquisição da Escrita nas Séries Iniciais

9. A Concepção Psicogenética e Interacionista na Aquisição da Escrita

Para o dicionário Aulete, Psicogênese significa “Estudo da origem e desenvolvimento dos processos mentais ou psicológicos, da mente ou da personalidade”. De acordo com Nunes (1990), o     Construtivismo é uma teoria sobre a origem do conhecimento que considera que a criança passa por estágios para adquirir e construir o conhecimento. Tem como objeto de estudo da alfabetização a língua escrita. Grandes avanços aconteceram na área da alfabetização, por meio das pesquisas e teorias de Jean Piaget, Emília Ferreiro, Vygotsky, Chomsky, Bettelheim, Hunt, Wallon e tantas outras contribuições significativas.

As teorias de Jean Piaget e de seus colaboradores ajudaram bastante para a prática pedagógica, em especial na alfabetização. A Psicologia genética (Piaget) elaborou estudos sobre o sujeito, sua origem e seu desenvolvimento. Nos estudos ele explicou que a inteligência é fruto de um processo que se enriquece a cada estágio de vida, e que esse conhecimento vai ajustando-se a cada estágio.

As teorias psicogenéticas, representadas por teóricos como Jean Piaget, Luria, Vygotsky e Wallon, explicam a gênese do comportamento humano sob uma perspectiva interacionista. Esses estudiosos entendem que o sujeito interage com o objeto tendo como objetivo de construir ou reconstruir estruturas de cognição.

Portanto, tais teorias estão presentes na educação contribuindo para que o sujeito seja visualizado em sua totalidade e para que ele seja compreendido nesse processo de interação dele com o objeto, onde, é papel da escola e seus responsáveis ajudar no desenvolvimento dessas capacidades de pensar e analisar de cada estudante.

No âmbito da aprendizagem da escrita, essa concepção está vinculada às pesquisas psicogenéticas conduzidas por Emília Ferreiro, Ana Teberosky e diversos colaboradores. Esses estudos foram inicialmente divulgados em países de língua espanhola na década de 1970, impactando significativamente o Brasil a partir da década seguinte. Esse impacto foi particularmente notável na Educação Infantil e nos primeiros anos dedicados à alfabetização.

Desse modo, tanto para Piaget como para Ferreiro, o conhecimento não se traduz em mera aquisição (memorização), mas numa construção, isto é, o sujeito constrói, pensa, formula e busca. De acordo com Piaget, o desenvolvimento humano é concebido como um processo de “organização e reorganização estrutural”. Piaget acreditava que as crianças constroem ativamente o conhecimento por meio da interação com o ambiente.

A “organização e reorganização estrutural” refere-se à maneira como as crianças criam estruturas cognitivas para entender o mundo ao seu redor. Piaget postulou que esse processo ocorre de maneira sequencial, com cada estágio de desenvolvimento representando uma nova estrutura cognitiva mais complexa do que a anterior. Esses estágios não estão rigidamente vinculados a idades cronológicas fixas, mas representam fases qualitativas de desenvolvimento.

Dessa forma, a teoria de Piaget destaca que o desenvolvimento cognitivo não é um processo contínuo, mas sim uma série de estágios distintos nos quais as crianças adquirem novas habilidades e compreensões. Esses estágios incluem o sensório motor, o pré-operacional, o operacional concreto e o operacional formal. Cada estágio é caracterizado por formas específicas de pensar e compreender o mundo, refletindo a evolução das estruturas mentais.

Para Piaget a criança é vista como um ser dinâmico que a todo o momento interage com o meio onde está inserida, operando ativamente com objetos e pessoas, e é nessa interação constante com a realidade faz com que a criança construa e adquira formas de fazê-las funcionar.

Vygotsky fundamentou sua teoria no materialismo histórico e dialético, e defendeu a perspectiva de que  a aquisição de conhecimentos acontece através da interação de sujeito e meio.

O materialismo histórico e dialético de Vygotsky destaca a importância do contexto social e histórico no desenvolvimento humano. Ele argumenta que não podemos entender adequadamente o desenvolvimento cognitivo sem considerar os fatores sociais, culturais e históricos que moldam a experiência humana. Assim, a aquisição de conhecimento não é vista como um processo isolado, mas sim como uma interação dinâmica entre o sujeito e o meio.

Vygotsky destacou a importância da interação social e do apoio de pessoas mais experientes para impulsionar o desenvolvimento cognitivo. Em resumo, a teoria dele enfatiza a interação social, o contexto cultural e a importância da orientação de pessoas mais experientes como elementos cruciais para o desenvolvimento cognitivo.

A concepção interacionista reconhece que a aquisição da escrita não é um processo isolado, mas sim construído através das interações sociais. A criança se apropria da linguagem escrita ao interagir com colegas, professores e materiais didáticos, em situações reais de uso da escrita. O diálogo e a interação com o outro são fundamentais para o desenvolvimento da linguagem escrita.

“A escrita é um produto cultural que se desenvolve na interação da criança com o meio social em que está inserida.” – Lev Semenovich Vygotsky.

De acordo com a concepção interacionista, a criança não adquire a escrita de forma passiva, mas sim de maneira ativa, construindo seu conhecimento a partir das experiências vivenciadas na comunidade em que está inserida. Através da interação com adultos e com outras crianças, ela internaliza as práticas sociais da escrita e desenvolve seu repertório de habilidades linguísticas e semânticas.

As interações com pais, familiares, professores e outros adultos são fundamentais nesse processo. Ao ler histórias, cantar músicas, brincar com jogos que envolvem a escrita e participar de outras atividades que estimulam a linguagem, os adultos mediam a aprendizagem da criança e a auxiliam na construção de um repertório de experiências relacionadas à escrita.

Com o tempo, essas experiências se internalizam e a criança começa a compreender a função social da escrita. Ela percebe que a escrita é um instrumento de comunicação que permite registrar ideias, sentimentos e informações, além de ser um meio de expressão criativa.

Mesmo antes de dominar o sistema de escrita alfabética, a criança já é capaz de produzir textos, utilizando seus próprios recursos e estratégias. Essa produção, embora não convencional, demonstra o desenvolvimento das funções psicológicas superiores da criança, como a capacidade de pensar, imaginar e simbolizar.

Atividades Interacionistas na Aquisição da Escrita

A escrita não surge de forma isolada na vida da criança. Ela é fruto de um processo gradual, mediado pelas interações sociais que a criança vivencia desde os primeiros anos de vida. Através do contato com a linguagem escrita em diferentes contextos, a criança vai construindo significados e desenvolvendo habilidades que a preparam para o domínio da escrita alfabética.

Para promover a aprendizagem da escrita de forma interacionista, é importante proporcionar às crianças atividades variadas que estimulem a leitura e a produção de textos. Alguns exemplos de atividades interacionistas são:

  • Leitura de histórias em grupo, seguida de discussões e produção de textos sobre o tema;
  • Jogos de palavras e de associação de imagens com palavras;
  • Escrita colaborativa, onde as crianças escrevem em conjunto, trocando ideias e sugestões;
  • Produção de textos coletivos, como cartas, recados, listas e cartazes;
  • Situações reais de escrita, como escrever convites para eventos da escola, registrar observações de experimentos, entre outros.

Importante: O papel do adulto é fundamental nesse processo, pois ele atua como mediador, proporcionando à criança experiências significativas com a linguagem escrita e auxiliando-a na construção de seu conhecimento sobre a escrita.

A abordagem interacionista na aquisição da escrita traz diversas vantagens para o processo de alfabetização. Ao promover a interação entre as crianças e o ambiente, as atividades interacionistas estimulam o desenvolvimento das habilidades comunicativas, a criatividade, a expressão de sentimentos e ideias, além de fortalecer a relação entre os aspectos sociais e cognitivos da escrita.

Através da abordagem interacionista, a criança se torna protagonista de seu próprio aprendizado, tendo a oportunidade de explorar a escrita de maneira criativa e contextualizada. Ao interagir com colegas e com o professor, ela desenvolve habilidades linguísticas, cognitivas e emocionais tornando-se um escritor competente e crítico.

Conclusão

A construção da escrita nas séries iniciais é um processo complexo que envolve diversas etapas e níveis de desenvolvimento. Os educadores que compreendem a psicogênese da escrita e as diferentes abordagens para a aquisição da norma ortográfica desempenham um papel fundamental na promoção de uma alfabetização eficaz. Além disso, a compreensão da evolução histórica do processo de construção da linguagem escrita e das categorias de alterações ortográficas presentes na escrita infantil contribui para uma análise mais detalhada da aprendizagem da escrita e aprimoramento das práticas pedagógicas nas séries iniciais do ensino fundamental.

É importante ressaltar que a escrita é um instrumento poderoso para a expressão e comunicação, e seu ensino requer estratégias pedagógicas adequadas. Os educadores das séries iniciais devem estar conscientes das diferentes etapas desse processo e adaptar suas práticas de acordo com as necessidades e habilidades de cada aluno.

Ao promover um ambiente de aprendizagem estimulante e desafiador, os educadores podem incentivar o desenvolvimento da escrita de forma significativa. A construção da escrita nas séries iniciais é um processo contínuo, no qual cada etapa é fundamental para o domínio da escrita. Portanto, investir no conhecimento sobre a escrita e aprimorar constantemente as práticas pedagógicas são essenciais para garantir uma alfabetização eficaz e o sucesso acadêmico dos alunos desde cedo.

FAQ

Por que a análise da linguagem escrita nas séries iniciais da educação infantil é essencial?

A análise da linguagem escrita nas séries iniciais da educação infantil é essencial para compreender o desenvolvimento da criança nessa área e promover uma alfabetização eficaz.

Quais são os níveis de construção da escrita?

Os níveis de construção da escrita são: Pré-silábico, Intermediário I, Silábico, Silábico-alfabético ou Intermediário II, e Alfabético.

Como a evolução histórica afetou o processo de construção da escrita?

A evolução histórica afetou o processo de construção da escrita, levando a mudanças nos métodos de ensino e práticas pedagógicas ao longo do tempo.

Como ocorre o processo de aquisição da linguagem escrita nas séries iniciais?

O processo de aquisição da linguagem escrita ocorre através da interação da criança com a linguagem oral e de técnicas de pré-escrita. A criança se prepara para a escrita desde os primeiros anos de seu desenvolvimento.

Como a construção da escrita nas séries iniciais é feita?

A construção da escrita nas séries iniciais é feita por meio de diferentes etapas, que envolvem desde desenhos e garatujas até a representação simbólica da língua falada.

Links de Fontes

Auxiliadora Lemos
Auxiliadora Lemos

Sou Auxiliadora Lemos. Professora e Psicopedagoga Clínica com mais de 18 anos de experiência na área. Esse espaço é dedicado a assuntos da Psicopedagogia, para guiar estudantes, recém-formados e profissionais que estão começando na área. Meu objetivo é oferecer suporte, compartilhar conhecimentos, dar dicas de recursos e facilitar a transição acadêmica à prática psicopedagógica. Vamos explorar juntos o fascinante universo do desenvolvimento humano e da aprendizagem!

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