Escrita

AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA DA ESCRITA: COMO IDENTIFICAR E SUPERAR DIFICULDADES

A Avaliação Psicopedagógica da Escrita é uma ferramenta fundamental para identificar e superar as dificuldades relacionadas ao processo de escrita. Por meio dessa avaliação, é possível diagnosticar problemas específicos, como dislexia, disgrafia, disortografia, entre outros, que podem afetar o aprendizado da escrita. Com o diagnóstico adequado, o psicopedagogo é capaz de desenvolver intervenções personalizadas para auxiliar o aprendiz a superar essas dificuldades e desenvolver suas habilidades de escrita.

Principais pontos abordados neste artigo:

  • A Importância da Escrita na Aprendizagem;
  • Avaliação Psicopedagógica na Identificação de Dificuldades de Escrita;
  • Principais Componentes da Escrita a Serem Avaliados;
  • Como Fazer uma Avaliação Psicopedagógica da Linguagem Escrita;
  • Etapas da Escrita/ Estágios da Escrita;
  • Instrumentos Psicopedagógicos da Escrita;
  • O Psicopedagogo Frente às Dificuldades de Escrita.

A Importância da Escrita na Aprendizagem

A aprendizagem, segundo Vygotsky (1989), é um processo mediado, individual e coletivo, que faz despertar processos internos de desenvolvimento. Esse processo envolve pelo menos três componentes: a memória, a consciência e a emoção. A esses se somam outros componentes, como o próprio desenvolvimento, a linguagem e o papel da cultura no processo de desenvolvimento humano (LIMA, 1997). Para Vygotsky (1982 e 1989), é o aprendizado escolar e social que pode proporcionar às crianças o desenvolvimento cultural, transformando o ser humano de ser biológico em ser histórico-cultural.

O processo de aprendizagem e desenvolvimento envolve tanto aspectos sociais, históricos, culturais, linguísticos, como aspectos cognitivos e afetivos. Todos esses aspectos são processos construídos e não são inerentes à condição étnica, de gênero ou de classe social (GOMES, 2004). A citação de Gomes  destaca que o processo de aprendizagem e desenvolvimento é multifacetado, envolvendo diversos aspectos como os sociais, históricos, culturais, linguísticos, cognitivos e afetivos.

Estes aspectos são construídos ao longo da vida e não estão determinados pela condição étnica, de gênero ou classe social. Dessa forma, qualquer forma de preconceito ou discriminação é injustificável. Para ensinar leitura e escrita de maneira eficaz, é crucial considerar o contexto sociocultural dos alunos. Isso inclui entender quem são as crianças, seus interesses, seu cotidiano, gostos culturais, e suas práticas de leitura e escrita. Além disso, é importante reconhecer e valorizar o conhecimento prévio que os alunos já possuem sobre leitura e escrita. A perspectiva da psicologia sócio-histórica enfatiza a importância de conhecer profundamente o contexto e a realidade dos alunos para promover um ensino mais inclusivo e significativo.

A escrita portanto, desempenha um papel fundamental na aprendizagem, pois é por meio dela que os indivíduos podem se comunicar, expressar seus pensamentos e sentimentos, e assimilar conhecimentos. As habilidades de escrita estão intrinsecamente ligadas ao desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo dos indivíduos. Um bom processo de escrita é essencial para o sucesso escolar e profissional.

A capacidade de escrever habilmente permite que as pessoas transmitam informações de maneira clara e organizada, além de promover a reflexão, a criatividade e a capacidade de análise crítica. Dominar a escrita também desenvolve a capacidade de argumentação e persuasão, habilidades essenciais em muitas áreas profissionais.

No contexto educacional, a escrita desempenha um papel importante, pois é por meio dela que os alunos são avaliados, seja por redações, trabalhos acadêmicos ou provas dissertativas. A escrita eficaz não apenas melhora a nota dos alunos, mas também os ajuda a organizar suas ideias, expandir seu vocabulário e estruturar seus pensamentos de forma lógica.

Além disso, a escrita é uma ferramenta poderosa para o aprendizado autônomo, permitindo que os alunos pesquisem, elaborem suas próprias respostas e aprofundem seu conhecimento em diversas áreas. Através da escrita, os alunos expressam suas opiniões, exploram diferentes perspectivas e desenvolvem um senso crítico mais apurado.

É importante ressaltar que a escrita não se limita apenas ao papel e caneta, mas também engloba a escrita digital, como e-mails, mensagens de texto, posts em redes sociais e outros meios de comunicação online. Dominar as habilidades de escrita digital também é essencial em uma sociedade cada vez mais conectada e tecnológica.

Para desenvolver habilidades de escrita eficazes, é fundamental investir tempo e esforço no aprimoramento desse processo. Isso inclui a prática regular, a leitura de diferentes tipos de textos, a ampliação do vocabulário e a revisão constante para identificar e corrigir erros gramaticais e de estrutura. Ademais, buscar feedback de professores, colegas ou profissionais sobre o processo da escrita pode contribuir significativamente para o desenvolvimento dessa habilidade.

Em resumo, a escrita desempenha um papel essencial na aprendizagem, promovendo a comunicação, o desenvolvimento cognitivo, a criatividade e a capacidade de análise crítica. Dominar as habilidades de escrita é fundamental para o sucesso acadêmico, profissional e pessoal. Portanto, é importante valorizar e investir no desenvolvimento dessas habilidades ao longo da vida.

Avaliação Psicopedagógica na Identificação de Dificuldades de Escrita

A avaliação psicopedagógica desempenha um papel fundamental na identificação de dificuldades de escrita. Por meio dessa avaliação, é possível analisar o desenvolvimento da criança, coletar informações e avaliar a dificuldade instalada.

Parafraseando Calvo (2007, p. 1), a escrita é uma habilidade única aos seres humanos, com imenso valor social, cultural e acadêmico-escolar. É através da escrita que os alunos expressam seus pensamentos, emoções e registram uma ampla gama de atividades relacionadas à aquisição do conhecimento. Assim, a escrita serve como uma importante forma de comunicação durante os anos de escolarização. A capacidade de escrever fluentemente evolui com a idade (Hamstra-Bletz & Blote, 1990; Perron & Coumes, 1988) e é aprimorada pela escolarização (Graham et al., 1998).

Por conseguinte, observemos que a escrita revela-se como uma habilidade muito complexa, envolvendo uma integração sofisticada de funções. De acordo com Jongmans et al. (2003), cada uma dessas funções desempenha um papel crucial no processo de escrita. Outros autores confirmam que a escrita é uma habilidade complexa (CHANG; YU, 2013; ERDOGAN; ERDOGAN, 2012), pois requer a maturidade e a integração da cognição, percepção visual e habilidades motoras finas (TSENG; MURRAY, 1994; VOLMAN; CHENDEL; JONGMANS, 2006; WEIL; AMUNDSON, 1996; BENJAMIN, 2005).

Essa habilidade, porém, não é inata, ela é aprendida e desenvolvida por meio do ensino (ERDOGAN; ERDOGAN, 2012), sendo o período da alfabetização um momento que exige dos escolares as habilidades cognitivas, linguísticas e motoras, a capacidade de decodificação das palavras e a ação motora adequada para a execução do ato motor da escrita; em outras palavras, o uso dos componentes sensórios-motores e perceptivos (CAPELLINI; SOUZA, 2008).

A citação destaca que a habilidade de escrever não é uma capacidade inata, mas sim uma competência adquirida e desenvolvida através do ensino e que durante o período de alfabetização, os estudantes precisam desenvolver diversas habilidades para se tornarem proficientes na escrita. Essas habilidades incluem capacidades cognitivas, linguísticas e motoras. Os alunos devem ser capazes de decodificar palavras e executar os movimentos necessários para escrever, o que envolve a utilização adequada dos componentes sensório-motores e perceptivos. Em resumo, a escrita é uma habilidade complexa que depende de um ensino eficaz e da integração de múltiplas capacidades e habilidades durante o processo de alfabetização.

Vejamos abaixo a descrição dessas funções, pois a compreensão desta complexidade é essencial para identificar e abordar dificuldades na aquisição da escrita.

  • Funções Perceptivas: Permitem a precisa discriminação e o reconhecimento das formas das letras e palavras.
  • Funções Cognitivas: Responsáveis pela organização do pensamento, pela elaboração de ideias e pela aplicação das regras gramaticais e ortográficas.
  • Funções Motoras: São responsáveis pela execução física da escrita, exigindo coordenação motora fina para a formação de letras legíveis e com precisão.
  • Funções Sensório-Motoras: Asseguram a perfeita integração entre a percepção visual e a resposta motora, garantindo fluidez e precisão na escrita, sincronizando visão e movimento.

A avaliação psicopedagógica procura identificar as causas das dificuldades de escrita, seja por questões cognitivas, emocionais ou pedagógicas. Com base nas informações coletadas durante a avaliação, o psicopedagogo planeja e elabora um plano de intervenção adequado para auxiliar o aprendiz a superar tais dificuldades observadas durante o diagnóstico.

A avaliação psicopedagógica abrange a análise dos distintos componentes da escrita, como ortografia, grafia e produção textual, permitindo a identificação de déficits ou dificuldades específicas nessas habilidades. Uma avaliação abrangente da escrita deve contemplar instrumentos capazes de avaliar os distintos componentes ou aspectos destas habilidade (ortografia, grafia e produção textual).

Nesse artigo, temos como objetivo principal apresentar de que forma é possível fazer uma avaliação psicopedagógica clínica no caso de uma dificuldade de escrita, categorizando os eixos principais da Avaliação Psicopedagógica na Linguagem Escrita, e citar alguns dos testes psicopedagógicos utilizados.

Principais Componentes da Escrita a Serem Avaliados

Na concepção de LEON et al., 2016, o foco tem sido três componentes: (1) a ortografia que se refere à codificação gráfica e assume que as mesmas estratégias utilizadas na leitura são também empregadas na escrita; (2) a grafia que se refere aos elementos motores, envolvendo habilidades de coordenação motora fina, planejamento da escrita e fluência. Nesse componente, o processo de escrita compreende algumas funções psicomotoras, entre elas, a modulação do equilíbrio e a lateralização – que se relaciona com a nomeação de direita e esquerda em si e no outro e com a dominância homolateral – legibilidade e velocidade também são consideradas; e (3) a produção textual que contempla três processos cognitivos: planejamento, construção de frases e revisão.

Com base em modelos, estudos e revisões da psicologia cognitiva e da neuropsicologia, Dias e Oliveira (2021) descrevem que a escrita inclui os componentes da ortografia, a grafia ou caligrafia, e a composição textual, que descreveremos a seguir. É importante ter conhecimento que no tocante a ortografia, ela se refere a codificação gráfica e que as mesmas estratégias utilizadas na leitura são também empregadas na escrita.

Sabemos pois, que a escrita é uma habilidade complexa e essencial para a inserção social, permitindo a comunicação e o compartilhamento de ideias e informações de maneira estruturada. A partir do referencial teórico da psicologia cognitiva e da neuropsicologia, podemos entender a escrita como um processo multifacetado que envolve diversos componentes interligados. Este entendimento é fundamental para a identificação e intervenção em dificuldades de aprendizagem relacionadas à escrita.

A escrita, mais do que um mero conjunto de letras no papel, é uma competência complexa que exige a união harmoniosa de diversas habilidades. Numa avaliação abrangente da escrita, deve-se contemplar vários instrumentos que avaliem componentes ou aspectos desta habilidade, entre elas, três que se destacam como pilares fundamentais: ortografia, caligrafia e produção textual, de modo a permitir a identificação de déficits ou dificuldades específicas. Cada um desses componentes, são como peças de um intrincado mecanismo, que contribui para a construção de uma comunicação eficaz e expressiva. De forma suscinta descreveremos os três pilares fundamentais da escrita para o processo avaliativo.

1. A Ortografia: 

A ortografia, é regida pelas regras gramaticais, é a responsável por garantir a uniformidade, o significado preciso e a escrita correta das palavras, ou seja, a ortografia refere-se ao domínio das regras e convenções que governam a escrita das palavras. Este componente é fundamental para a clareza e precisão da comunicação escrita. A aquisição das regras ortográficas exige não apenas memorização, mas também a compreensão dos padrões linguísticos e das exceções. Na neuropsicologia, a ortografia está associada ao funcionamento de áreas específicas do cérebro responsáveis pelo processamento fonológico e pela memória visual de palavras. Ela é a base sobre a qual se ergue a comunicação clara e livre de ambiguidades. Através do conhecimento das regras ortográficas, o escritor assegura que sua mensagem seja interpretada de forma correta e inequívoca pelo leitor.

2. Caligrafia:

A grafia envolve a habilidade motora de formar letras e palavras. Este componente é particularmente relevante na infância, quando as habilidades motoras finas estão em desenvolvimento. A caligrafia é a responsável pela legibilidade e estética da escrita, harmonizando forma e conteúdo, tornando-a agradável aos olhos e facilitando a leitura. Além disso, uma boa caligrafia demonstra cuidado, organização de detalhes e atenção do escritor com sua própria mensagem. Problemas na grafia podem resultar de dificuldades motoras ou de coordenação visomotora, sendo importantes fatores a serem considerados em avaliações psicopedagógicas.

3. Produção Textual: 

A produção textual, transforma ideias em textos coesos, coerentes e gramaticais. É a habilidade de organizar ideias, selecionar vocabulário preciso, utilizar recursos gramaticais de forma adequada para transmitir uma mensagem com clareza, impacto e originalidade, e ainda estruturar pensamentos e expressá-los de forma clara e coesa. É através dela que damos vida às nossas histórias, argumentamos nossos pontos de vista e compartilhamos nosso conhecimento com o mundo.

Este componente requer habilidades cognitivas mais avançadas, como a organização do pensamento, a estruturação do texto e o uso adequado da linguagem. A neuropsicologia destaca a importância das funções executivas, como o planejamento e a revisão, na produção textual eficiente. Juntos, ortografia, grafia e produção textual formam a base da competência escrita, essencial para a plena participação social e acadêmica.

A Interconexão dos Três Pilares

Embora pareçam distintas, ortografia, caligrafia e produção textual estão intimamente interligadas. Uma boa ortografia garante a correção das palavras e clareza da mensagem, enquanto a caligrafia facilita a leitura e a produção textual dá vida às ideias. Dominar a arte da escrita exige dedicação, prática e o desenvolvimento das habilidades em cada um dos seus pilares. Ao dominar esses pilares o indivíduo se torna um hábil comunicador, capaz de expressar suas ideias com clareza, precisão e beleza.

A jornada para o aperfeiçoamento da escrita é contínua, mas os frutos são recompensadores. Através da leitura frequente, da escrita constante e do estudo das normas gramaticais, o indivíduo aprimora sua ortografia, caligrafia e produção textual, tornando-se um escritor capaz de comunicar suas ideias com clareza, expressividade e beleza para se conectar com o mundo através da palavra escrita.

Como Fazer uma Avaliação Psicopedagógica da Linguagem Escrita

Luria (2006) argumenta que aprender a escrever requer a assimilação de mecanismos simbólicos, como a capacidade de recordar informações. Isso significa que a criança começa a usar não apenas marcas pictográficas, mas também simbólicas para ajudar na memorização, isto é, além de memorizar a forma das letras e palavras, a criança deve aprender a associar esses símbolos a significados e usá-los para expressar ideias e informações. Em essência, a escrita vai além da simples reprodução de formas e envolve a compreensão e manipulação de símbolos para comunicação. Cognitivamente, não é apenas a estrutura funcional do processo de escrita que se transforma, mas também a “organização” cerebral se modifica conforme esse aprendizado ocorre.

A avaliação psicopedagógica da escrita tem como objetivo principal verificar se o desempenho do aprendiz na escola é compatível com sua faixa etária e escolaridade, especificamente nesse caso no campo da escrita. Além disso, busca observar se o nível cognitivo da criança está alinhado com sua idade cronológica, o que pode ajudar a descartar suspeitas de dislexia em crianças com dificuldades na alfabetização, mas cuja idade cronológica corresponde ao seu desenvolvimento cognitivo. A avaliação também pretende identificar, no contexto escolar, os fatores que facilitam ou interferem no processo de aprendizagem da criança, determinando as habilidades ou dificuldades presentes.

De acordo com as autoras MOOJEN; COSTA, 2016, p. 85, a avaliação psicopedagógica propõe-se fundamentalmente, a verificar a compatibilidade entre o nível de desempenho acadêmico da criança e a sua faixa etária e ano escolar, em especial nas áreas de leitura, escrita, matemática e habilidades correlatas. Busca ainda analisar as atitudes da criança frente à escola e à aprendizagem e identificar os fatores etiológicos e as competências ou as inabilidades que facilitam/interferem no processo de aprendizagem.

Desse modo a avaliação acontece, por meio de atividades informais (testes qualitativos), encontrados em editoras da área como instrumentos qualitativos de avaliação das habilidades preditoras e instrumentos formais (testes quantitativos),  ou seja, testes psicométricos que avaliam de forma padronizada e objetiva as habilidades cognitivas (inteligência, habilidades verbais e numéricas, atenção, memória, entre outros), emocionais e comportamentais de uma pessoa. Para iniciar com essa avaliação do processo de investigação da escrita, deve ser planejado os tipos de instrumentos após o primeiro sistema de hipóteses levantadas na Queixa, nas Entrevistas iniciais e nas Observações dessas  sessões. Para uma melhor compreensão leia o artigo: https://serpsicopedagoga.com.br/avaliacao-psicopedagogica-guia-pratico/

De acordo com Chamat (2008) após a utilização de cada instrumento deverá ser levantada as hipóteses sobre as possíveis causas dos sintomas, descartando aquelas que se mostram no decorrer do desenvolvimento menos prováveis. Durante todo o processo investigativo, o psicopedagogo deverá registrar todas as informações que julgar preponderante nas sessões, as quais o aprendente está sendo submetido as testagens. Os dados dessa avaliação, depois de analisados, devem ser mostrados aos pais ou responsáveis em uma entrevista devolutiva (MOOJEN; COSTA 2006, p. 103).

Antes de pontuarmos os instrumentos é indispensável falar sobre as etapas da escrita segundo Frith (1990) e Morton (1989), que descreveram as três etapas pelas quais a criança passa no processo de domínio da linguagem escrita, e/ou os estágios da escrita de acordo com Ferreiro e Teberosky (1999), a qual na teoria psicogenética, o desenvolvimento da linguagem escrita equivale a mudanças nas hipóteses conceituais que as crianças constroem no processo do domínio da escrita.

Etapas da Escrita/ Estágios da Escrita

De acordo com pesquisadores como Frith (1990) e Morton (1989) descreveram 3 etapas do processo de domínio da linguagem escrita pela criança no processo da alfabetização, ocorrendo por meio de três estratégias, logográfica, alfabética e ortográfica.

Na fase logográfica, a escrita da criança é uma reprodução visual de palavras que ela reconhece, focando em algumas letras, frequentemente a primeira e a última, embora ainda ocorram trocas e inversões no meio da palavra. A criança “desenha” as palavras, como ao escrever (ou desenhar) seu próprio nome. Na estratégia alfabética, a posição das letras dentro da palavra começa a ser considerada, e a criança percebe a relação entre fala e escrita, aplicando a correspondência entre grafemas e fonemas, o que facilita a escrita de novas palavras. Na fase ortográfica, a criança passa a considerar a palavra como uma unidade mínima e é capaz de escrever corretamente, acessando o léxico mental ortográfico, mesmo para palavras irregulares.

De acordo com o modelo de desenvolvimento da linguagem escrita de Ferreiro e Teberosky, elas utilizam uma teoria chamada Psicogênese da Língua Escrita, propondo que as crianças, ao refletirem sobre a linguagem escrita presente ao seu redor, constroem hipóteses conceituais sobre como a escrita funciona (Ferreiro & Teberosky, 1999). Nessa teoria psicogenética, o desenvolvimento da linguagem escrita equivale a mudanças nas hipóteses conceituais que as crianças constroem, passando por quatro estágios com características específicas: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético. Segundo Ferreiro (1999), o desenvolvimento ocorre por meio de mudanças qualitativas nas hipóteses predominantes que caracterizam cada estágio. As crianças permanecem em um estágio regido por uma hipótese mais rudimentar até que evoluem para uma hipótese mais avançada.

Segundo Ferreiro e Teberosky (1999) O primeiro estágio é denominado pré-silábico, no qual as crianças têm pouco conhecimento sobre o sistema de escrita e suas hipóteses são bastante simples e distantes do real funcionamento do sistema alfabético de escrita (e.g. usam letras aleatórias). O segundo estágio é o silábico e é caracterizado pela hipótese de que, para escrever palavras, deve ser usada uma letra para representar cada sílaba (ex. AAO para CAVALO); pode ser divido em dois sub-estágios: 1) silábico sem valor sonoro: uma letra para cada sílaba ainda que sem correspondência sonora (ex. VB para CASA); e 2) silábico com valor sonoro: uma letra para cada sílaba com correspondência sonora (ex. AA para CASA). No estágio seguinte, silábico-alfabético, as crianças passam a usar mais letras para escrever palavras, mas não todas. O estágio alfabético é o último e é quando surgem as escritas convencionais.

Entender essas estratégias/estágios da escrita é essencial para compreender como a criança desenvolve a escrita e identificar qual estratégia específica pode estar comprometendo sua aprendizagem.

psicopedagogo

Instrumentos Psicopedagógicos da Escrita

Os instrumentos psicopedagógicos são ferramentas que auxiliam no processo investigativo do diagnóstico, mas devem ser complementados com outros enfoques que considerem relevantes com a conduta do paciente. Todo o processo depende de um aspecto essencial: o olhar atento e a sensibilidade do psicopedagogo (Moojen & Costa, 2006).

Como pontuado anteriormente, deve ser utilizado inicialmente instrumentos baseados em coletas de dados, os quais serviram de subsídios para optar pelos testes específicos de acordo com as hipóteses levantadas nas primeiras sessões. Depois, é o momento de selecionar alguns testes e materiais (atividades lúdicas e/ou jogos) que o auxiliem no desenvolvimento de estratégias adequadas para compreender o motivo da(s) queixa(s) e identificar o que o aprendiz já sabe e o que ainda não sabe (dificuldade).

Dessa forma, é crucial conhecer e ter domínio dos instrumentos de avaliação da escrita disponíveis no contexto nacional. O psicopedagogo deve selecionar os instrumentos compatíveis com o nível de desempenho acadêmico da criança e a sua faixa etária e ano escolar.

A  aplicabilidade de instrumentos padronizados específicos da escrita para crianças que ainda não sabem escrever, visam avaliar habilidades preditoras e outros analisam as estratégias utilizadas pelas crianças nas escritas de acordo com a teoria psicogenética de Ferreiro (1999) e na teoria de desenvolvimento da linguagem escrita proposta por Frith (1990) e Morton (1989).

A  aplicabilidade de instrumentos padronizados específicos da escrita para crianças que ainda não sabem escrever, visam avaliar habilidades preditoras, e outros analisam as estratégias utilizadas pelas crianças nas escritas de acordo com a teoria psicogenética de Ferreiro (1999) e na teoria de desenvolvimento da linguagem escrita proposta por Frith (1990) e Morton (1989). A seguir iremos citar alguns instrumentos nacionais que servem de referencia principalmente para psicopedagogos iniciantes na carreira.

A Avaliação Psicopedagógica da Escrita é uma ferramenta fundamental para identificar e superar as dificuldades relacionadas ao processo de escrita. Por meio dessa avaliação, é possível diagnosticar problemas específicos, como dislexia, disgrafia, disortografia, entre outros, que podem afetar o aprendizado da escrita. Com o diagnóstico adequado, o psicopedagogo é capaz de desenvolver intervenções personalizadas para auxiliar o aprendiz a superar essas dificuldades e desenvolver suas habilidades de escrita.

É importante informar que alguns instrumentos não contemplam somente os componentes da linguagem escrita, mais também as habilidades metalinguísticas ( a consciência fonológica, a consciência sintática e a consciência morfológica), que abrangem os aspectos fonológicos, lexicais, morfológicos, sintáticos, semânticos e ortográficos da linguagem escrita. Outros instrumento são composto por subtestes de ditado de sílabas, de palavras, pseudopalavras, frases e composição da escrita que avalia os seguintes aspectos da escrita: a ortografia regular e arbitrária, regras ortográficas, regras de pontuação e acentuação, uso de maiúsculas, além da composição de um texto. Há ainda testes que avaliam habilidades básicas de escrita, aritmética e leitura.

Um instrumento de avaliação de escrita é definido como qualquer tipo de avaliação padronizada da habilidade de escrever. Isso significa que ele segue um formato específico tanto para a aplicação quanto para a correção, e alguns instrumentos não são validados psicometricamente  e/ou com tabelas normativas disponíveis. Em outras palavras, alguns testes são ferramentas que usa procedimentos definidos para avaliar a escrita, mesmo que não haja dados detalhados ou normas de desempenho.

Instrumentos:

  1. IAR – Instrumento de Avaliação do Repertório Básico para a Alfabetização (Manual de Aplicação e Avaliação). https://amzn.to/4cjBdQC
  2. Técnica das 4 Palavras e 1 Frase – Ferreiro
  3. Instrumento Qualitativo de Avaliação das habilidades Preditoras de Leitura e de Escrita.
  4. PAHCL – Protocolo de Avaliação de Habilidades Cognitivo-Linguísticas
  5. PROADE: Proposta de Avaliação das Dificuldades Escolares. https://amzn.to/4cCEyde
  6. MALEC – Material para Avaliação de Leitura e Escrita da Criança.
  7. TDE II – Teste de Desempenho Escolar.
  8. Roteiro de Observação Ortográfica – Zorzi.
  9. DB – Ditado balanceado – Moojen.
  10. APET – Análise da Produção Escrita de Textos. https://amzn.to/45GgaVK
  11. Avaliação Neuropsicológica Cognitiva – Volume 3.  https://amzn.to/3xnpBNj

Há tantos outros instrumentos como dito anteriormente para avaliar a escrita, sejam eles qualitativos ou quantitativos. A teoria e a prática revalida o conhecimento gerado a partir da aplicabilidade na práxis psicopedagógica, ou seja o conhecimento gerado pela teoria só se torna verdadeiramente válido quando é aplicado na prática psicopedagógica. Em outras palavras, é a combinação de teoria e prática que confirma e reforça o valor e a utilidade do conhecimento na psicopedagogia. A teoria oferece a base conceitual e a prática fornece a oportunidade de aplicar, testar e refinar esse conhecimento no dia a dia do trabalho psicopedagógico, criando um ciclo contínuo de aprendizado.

O emprego de testes psicopedagógicos na área de aprendizagem da escrita apresenta-se como uma ferramenta importante, visto que diversos componentes estão envolvidos no processo de aprendizagem. No entanto, não é capaz de fornecer um diagnóstico completo apenas por sua aplicação. Dessa forma, torna-se essencial que a avaliação seja realizada com outros da área pedagógica a qual o profissional tenha conhecimento acadêmico das competências exigidas pelos documentos oficiais da educação, para que estas atividades possam complementar conhecimentos e interpretações, contribuindo para a formulação de estratégias eficazes de intervenção.

O Psicopedagogo Frente às Dificuldades de Escrita

A escrita é uma habilidade fundamental e complexa, essencial para o desenvolvimento acadêmico e social dos indivíduos. Ela envolve uma série de competências cognitivas, motoras, linguísticas e perceptivas, que devem ser trabalhadas de maneira integrada. No entanto, muitas crianças enfrentam dificuldades significativas nesse processo, o que pode comprometer seu desempenho escolar e autoestima.

É nesse contexto que o papel do psicopedagogo se torna crucial. Este profissional é responsável por identificar as dificuldades específicas do aprendiz como: dificuldades em saber diferenciar grafismos/desenhos (símbolos) de grafemas/letras (signos); não ter construído o conhecimento do sistema alfabético, para identificar os sons que devem representar na escrita; construir a relação fonema-grafema – a percepção de que as letras representam certos sons da fala em contextos precisos; perceber a sílaba em sua variedade como contexto fonológico da representação; entre outros.

Ao compreender as causas subjacentes aos problemas de escrita e aplicar estratégias específicas, o psicopedagogo pode ajudar os alunos a superarem os obstáculos, promovendo um aprendizado mais eficaz e inclusivo. Com base no diagnóstico, o psicopedagogo pode elaborar um plano de intervenção personalizado, que utiliza métodos e técnicas voltados para o desenvolvimento das habilidades de escrita.

Além disso, o psicopedagogo trabalha em parceria com outros profissionais, e a depender do caso com fonoaudiólogo, para que possam oferecer um suporte completo ao aprendiz. A colaboração entre essas áreas permite uma abordagem interdisciplinar e a aplicação de diferentes estratégias de intervenção, visando atender às necessidades específicas do indivíduo.

É importante destacar que a intervenção do psicopedagogo vai além da resolução das dificuldades imediatas da escrita. O profissional também busca promover atividades voltadas para o desenvolvimento da cognição, da autonomia e da autoconfiança do aprendiz, incentivando-o a desenvolver habilidades de estudo e organização, que são fundamentais no processo de aprendizagem como um todo.

Lembre-se:

  • A escrita é uma jornada contínua de aprendizado e aperfeiçoamento.
  • Cada indivíduo possui seu próprio ritmo e estilo de escrita.
  • A busca por feedback e a revisão constante são ferramentas essenciais para o aprimoramento.

Escrever é comunicar, é criar, é expressar-se. É tecer um universo de palavras com maestria, caligrafia e fluidez, deixando sua marca no mundo.

Dicas para Aprimorar os Pilares da Escrita:

  • Ortografia: Leia bastante, consulte dicionários e pratique a escrita de palavras com as quais você tem dificuldade.
  • Caligrafia: Treine a caligrafia com regularidade, utilizando diferentes tipos de letra e ferramentas de escrita.
  • Produção Textual: Leia textos de diversos autores, planeje seus escritos antes de começar e revise-os com atenção.

É importante destacar que a avaliação psicopedagógica deve ser realizada por um profissional qualificado na área da psicopedagogia, que possua conhecimento técnico e experiência para conduzir o processo de avaliação de forma ética e precisa.

Benefícios da Avaliação Psicopedagógica nas Dificuldades de Escrita:
  • Identificação das dificuldades específicas de cada aprendiz;
  • Compreensão das causas subjacentes das dificuldades de escrita;
  • Elaboração de um diagnóstico preciso;
  • Planejamento de intervenções personalizadas;
  • Promoção do desenvolvimento das habilidades de escrita.

Citação de uma especialista:

Saber escrever e utilizar esta habilidade no dia a dia, em nossa sociedade, é uma necessidade
inquestionável, pois ela é necessária para os mais variados fins, independentemente da idade do
indivíduo (SOARES, 1989).

Conclusão

A avaliação psicopedagógica da escrita desempenha um papel fundamental na identificação e superação das dificuldades relacionadas a esse processo. Através dessa avaliação, é possível diagnosticar problemas específicos, como dislexia, disgrafia e disortografia, e desenvolver intervenções adequadas para auxiliar o aprendiz a superar essas dificuldades.

Conclui-se que a avaliação psicopedagógica da escrita, aliada à intervenção adequada e ao apoio familiar, são elementos chave para superar as dificuldades de escrita. Com esse suporte, é possível auxiliar o aprendiz a desenvolver suas habilidades e alcançar o sucesso no processo de escrita.

FAQ

O que é a avaliação psicopedagógica da escrita?

A avaliação psicopedagógica da escrita é um processo utilizado para identificar e diagnosticar dificuldades relacionadas ao processo de escrita, como dislexia, disgrafia e dislalia. Através dessa avaliação, é possível desenvolver intervenções específicas para auxiliar o aprendiz a superar essas dificuldades.

Por que a escrita é importante na aprendizagem?

A escrita desempenha um papel fundamental na aprendizagem, pois permite que os indivíduos se comuniquem, expressem seus pensamentos e sentimentos, e assimilem conhecimentos. As habilidades de escrita estão ligadas ao desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo dos indivíduos, sendo essenciais para o sucesso escolar e profissional.

Qual é o papel da avaliação psicopedagógica na identificação de dificuldades de escrita?

A avaliação psicopedagógica é fundamental para identificar dificuldades de escrita. Por meio dessa avaliação, é possível analisar o desenvolvimento da criança, coletar informações e avaliar a dificuldade instalada. O psicopedagogo utiliza diferentes estratégias, como testes de competência de leitura e escrita, para diagnosticar e compreender as dificuldades específicas do aprendiz.

Como a intervenção psicopedagógica ajuda na superação das dificuldades de escrita?

A intervenção psicopedagógica é essencial para auxiliar o aprendiz na superação das dificuldades de escrita. O psicopedagogo utiliza estratégias como jogos educativos para promover o desenvolvimento das habilidades de escrita e minimizar as dificuldades. As atividades interventivas são adaptadas de acordo com o diagnóstico e as necessidades específicas do aprendiz.

Qual é o papel do psicopedagogo frente às dificuldades de escrita?

O psicopedagogo desempenha um papel fundamental no acompanhamento e intervenção das dificuldades de escrita. Ele busca compreender as causas das dificuldades e desenvolver estratégias adequadas para auxiliar o aprendiz a superar esses obstáculos. Além disso, trabalha em parceria com outros profissionais, como psicólogos e fonoaudiólogos, para oferecer um suporte completo ao aprendiz.

Quais são os principais distúrbios de aprendizagem relacionados à escrita?

Alguns dos principais distúrbios de aprendizagem relacionados à escrita são a dislexia, que afeta a leitura e a escrita; a disgrafia, que afeta a qualidade do aspecto gráfico da escrita; e a disortografiia, afeta a escrita correta das palavras de acordo com a norma culta. Cada um desses distúrbios exige um acompanhamento específico por parte do psicopedagogo, que irá desenvolver intervenções direcionadas para cada dificuldade..

Por que a avaliação psicopedagógica da escrita é essencial?

A avaliação psicopedagógica da escrita é essencial para identificar e superar as dificuldades relacionadas a esse processo. Através da intervenção psicopedagógica adequada, é possível auxiliar o aprendiz a desenvolver suas habilidades de escrita e superar os obstáculos encontrados. O envolvimento da família e o trabalho em parceria com outros profissionais são essenciais para o sucesso do processo de superação das dificuldades de escrita.

Fontes de Pesquisas

  • CALVO, Adriano Percival. A produção gráfica e escrita: focalizando a variação da produção de força. 2007. 173 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro, 2007.
  • CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de diagnóstico psicopedagógico: o diagnóstico clínico na
    abordagem interacionista. São Paulo: Vetor, 2004.
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  • MOOJEN, Sônia. COSTA, Adriana Corrêia. Semiologia psicopedagógica. In: ROTTA, Newra
    Tellechea. Transtornos da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2006. P. 103-112.

Auxiliadora Lemos
Auxiliadora Lemos

Sou Auxiliadora Lemos. Professora e Psicopedagoga Clínica com mais de 18 anos de experiência na área. Esse espaço é dedicado a assuntos da Psicopedagogia, para guiar estudantes, recém-formados e profissionais que estão começando na área. Meu objetivo é oferecer suporte, compartilhar conhecimentos, dar dicas de recursos e facilitar a transição acadêmica à prática psicopedagógica. Vamos explorar juntos o fascinante universo do desenvolvimento humano e da aprendizagem!

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