AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA – GUIA PRÁTICO

Se você trabalha na área de Psicopedagogia ou está interessado em compreender melhor sobre essa área, este Guia Prático é para você, nele vamos explorar todos os aspectos da Avaliação Psicopedagógica.

A Avaliação Psicopedagógica, Também chamada de diagnóstico psicopedagógico, desempenha um papel fundamental na identificação e compreensão das dificuldades de aprendizagem de um indivíduo. É uma ferramenta essencial utilizada por profissionais desse campo do saber. O especialista tem como ponto de partida para iniciar “a queixa” que pode ser pelos professores que constatam o baixo desempenho escolar do aluno, pelos pais ou, ainda, pela própria criança ou adolescente. Durante o processo o psicopedagogo vai coletar e analisar informações sobre o desenvolvimento educacional de uma pessoa (crianças, jovens e adultos). Através desse processo, é possível identificar dificuldades transitórias de aprendizagem, possíveis transtornos de aprendizagem e oferecer intervenções psicopedagógicas adequadas.

Neste guia, você encontrará informações sobre: definição, demanda da avaliação, objetivo da avaliação, as etapas da avaliação psicopedagógica, as técnicas utilizadas, e outros aspectos. Esperamos que este guia seja uma fonte útil de informações para todos que desejam aprofundar seus conhecimentos na área de Avaliação Psicopedagógica e contribuir para o desenvolvimento educacional de indivíduos com dificuldades de aprendizagem.

1. Avaliação Psicopedagógica: Definição

Desenvolvimento Cognitivo

A Avaliação Psicopedagógica é “um processo compartilhado de coleta e análise de informações relevantes da situação de ensino-aprendizagem, considerando-se as características próprias do contexto escolar e familiar, a fim de tomar decisões que visam promover mudanças que tornem possível melhorar a situação colocada” ( Colomer, Masot, Navarro, 2001).

Weiss (2004, p. 27) diz que todo diagnóstico é, em si, uma investigação, é uma pesquisa do que não vai
bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto, o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da família e na maioria das vezes, da escola. No caso, trata-se do não-aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não-revelar o que aprendeu, do fugir de situações de possível aprendizagem.

Realizar um diagnóstico é semelhante a montar um grande quebra-cabeça: conforme as peças se encaixam, revela-se a verdadeira causa dos sintomas. Essas peças são fornecidas pela família, pela escola e pelo próprio indivíduo, mas a habilidade de montá-las corretamente depende do psicopedagogo. Para alcançar um resultado eficaz, é essencial considerar todos os aspectos observados, tanto objetivos quanto subjetivos, nos âmbitos cognitivo, familiar, pedagógico e social.

1.1 Demanda de Avaliação Psicopedagógica

A demanda refere-se a problemas que precisam ser resolvidos, situações suscetíveis de modificar, temas que devem ser trabalhados ou conflitos a solucionar. (Bonals e González, 1992). A demanda de avaliação das aprendizagens podem partir do interesse do docente, dos pais e/ou de especialistas da área da saúde no sentido de avaliar o aluno com dificuldade para acompanhar as aprendizagens.

1.2 Objetivo da Avaliação Psicopedagógica

O principal objetivo da Avaliação Psicopedagógica Clínica é identificar as causas subjacentes das dificuldades de aprendizagem do aprendiz e fornecer orientações detalhadas para intervenções específicas que ajudem a superar essas dificuldades. Esse processo envolve uma análise minuciosa do histórico educacional, comportamental e socioemocional do aprendente, utilizando uma variedade de técnicas e instrumentos avaliativos para obter uma compreensão abrangente das suas necessidades.

Em outras palavras, o objetivo do diagnóstico é obter uma compreensão abrangente da forma de aprender do indivíduo e identificar os desvios que estão ocorrendo nesse processo, permitindo um prognóstico preciso e o encaminhamento adequado para as dificuldades de aprendizagem. O diagnóstico organiza os dados coletados de maneira específica, considerando os diferentes aspectos envolvidos no processo de aprendizagem. Este processo envolve uma abordagem interdisciplinar, integrando a depender do caso, especialistas das áreas: neurologia, psicopedagogia e psicologia. Isso possibilita a eliminação de fatores irrelevantes e a identificação da causa real do problema.

Conforme Weiss (2003, p. 32), o objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social.

Como afirma Escott (2004), no âmbito da Psicopedagogia Clínica, o objetivo não se limita apenas na contribuição da solução dos problemas de aprendizagem, mas também tem o papel de cooperar para a construção de um sujeito pleno, crítico e mais feliz.

1.3 O Processo de Avaliação Psicopedagógica

O Processo de Avaliação Psicopedagógica vai além da aplicação de provas e testes; ele exige a utilização de diversas medidas e técnicas avaliativas, além de um trabalho rigoroso de investigação, análise e síntese de dados para orientar cada caso de maneira adequada. Portanto, o psicopedagogo deve se empenhar em aperfeiçoar suas técnicas de diagnóstico, conduzindo uma investigação sistemática que abranja o meio socioeconômico, o ambiente familiar, o nível de adaptação e o aproveitamento escolar do aluno. Além disso, é de extrema importância considerar as características pessoais do aluno, como suas aptidões e capacidades específicas.

A avaliação psicopedagógica ou diagnóstico psicopedagógico consiste em um processo observador e investigativo, que por meio da coleta e análise de informações relevantes do sujeito, é possível verificar os vários elementos que influenciam no processo de ensino e aprendizagem dele. Para Rubinstein (1996), o diagnóstico psicopedagógico pode ser comparado com um processo de investigação. Nesse processo, o psicopedagogo reproduz o papel do detetive à procura de vestígios, informações, selecionando-as criteriosamente e levando em consideração todos os aspectos que abarcam o processo de aprendizagem do indivíduo.

A Avaliação Psicopedagógica Clinica é um processo complexo de investigação sobre a aprendizagem de um individuo (criança, adolescente e/ou adulto). Tal investigação envolve não só o individuo e o psicopedagogo, mas vários atores como pais, professores, colegas e outros envolvidos no caso. Existem várias formas de avaliação na clínica psicopedagógica dependendo dos aportes teóricos que fundamentam a sua investigação, ou seja, a linha de trabalho será de acordo com a formação acadêmica e o percurso profissional do psicopedagogo. Bossa (2000, p. 96) nos lembra que a forma de se operar na clínica para se fazer um diagnóstico varia entre os profissionais dependendo da postura teórica adotada.  Seja qual for o seu modelo teórico ele não é fechado, e permite que o profissional complemente, mescle ou até mesmo exclua algumas etapas que julgue pertinente.

Durante essa avaliação, é fundamental realizar uma coleta de dados abrangente e relevantes utilizando diferentes técnicas e instrumentos. Esses dados são cuidadosamente analisados, permitindo a identificação precisa das dificuldades e a compreensão dos fatores envolvidos no processo de aprendizagem. Essa coleta e análise de informações sobre o processo de aprendizagem, irão possibilitar a identificação das necessidades educativas, cognitivas e socioemocionais para fundamentar as decisões, traçar um perfil mais completo e compreensivo do desenvolvimento educacional do aprendiz.

1.4 Coleta de Dados

Para a coleta de dados, são realizadas entrevistas com os pais ou responsáveis, análise do material escolar, aplicação de testes específicos, observação do comportamento e desempenho acadêmico do indivíduo. Ao coletar dados, é essencial considerar todos os aspectos do processo de aprendizagem, desde o desempenho acadêmico, o comportamento em casa e em sala de aula, até a interação social e emocional. Dessa forma, será possível identificar possíveis dificuldades, obstáculos e áreas de intervenção necessárias. Essas informações fornecem um panorama completo do quadro psicopedagógico, permitindo uma avaliação precisa e abrangente.

Além da coleta de dados, é importante analisar e interpretar os resultados de maneira cuidadosa e criteriosa. A análise dos dados deve levar em consideração as particularidades do caso, reconhecendo a singularidade do indivíduo e considerando diferentes perspectivas. Após a coleta e análise dos dados, são feitas recomendações e propostas. Com base na análise dos dados coletados, é possível propor intervenções psicopedagógicas adequadas. Essas intervenções devem ser personalizadas, levando em conta as necessidades e características individuais do indivíduo. A intervenção psicopedagógica pode incluir atividades de estimulação cognitiva, apoio socioemocional, estratégias de aprendizagem personalizadas e orientações para os pais e professores.

É importante ressaltar que a avaliação psicopedagógica e as intervenções propostas são processos contínuos. À medida que o indivíduo progride em seu desenvolvimento educacional, é necessário reavaliar e ajustar as intervenções de acordo com suas novas necessidades. A avaliação e a intervenção devem ser realizadas de forma integrada e colaborativa, envolvendo profissionais da área da psicopedagogia, outros terapeutas a depender da necessidade, educadores, pais e demais membros da equipe de apoio.

2. Etapas da Avaliação Psicopedagógica – Sequência Diagnóstica

Sob o ponto de vista de Weiss (2008, p. 37) o diagnóstico psicopedagógico é composto de vários momentos que temporal e espacialmente tomam dimensões diferentes conforme a necessidade de cada caso. Como a Psicopedagogia está alicerçada nas contribuições de vários autores e nas suas linhas de ações, há algumas sequências de passos, que parece ser um bom referencial para o processamento diagnóstico a depender do seu aporte teórico e campo de trabalho.

A estrutura da Sequência Diagnóstica deve ser estabelecida a partir dos primeiros contatos com o caso e segundo com a linha teórica assumida pelo psicopedagogo. Nesse Artigo utilizaremos as etapas de sequência da Avaliação Psicopedagógica Clínica sugerida pela autora Maria Lúcia Lemme Weiss. Além da sequência estabelecida, a autora cita um modelo de modificação feito por ela que trata-se de uma segunda Anamnese Inicial no caso de pais separados e incompatibilizados, ou quando recebe um adolescentes que deseja o primeiro contato sozinho, e também faz a Anamnese inicial sempre que há dúvidas em relação a diagnósticos anteriores, ou o paciente esteve ou está com outros profissionais. No livro PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar, trata todos os passos detalhadamente. Segue link:

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Aqui está o modelo da sequência adotada por Weiss:

  1. Entrevista Familiar Exploratória Situacional – EFES
  2. Entrevista de Anamnese
  3. Sessão Lúdica Centrada na Aprendizagem
  4. Complementação com Provas e Testes
  5. Síntese Diagnóstica
  6. Entrevista de Devolução e Encaminhamento

3. Técnicas, Recursos e Instrumentos de Avaliação Psicopedagógica

O QUE É A QUEIXA?: De acordo com Lopes (2008, p. 17), a queixa constitui-se de uma reclamação, de um sintoma, de algo que não vai bem com o sujeito, neste caso, com seu processo de aprendizagem. Esta queixa deve ser investigada pelo psicopedagogo com o intuito de esclarecer o porque da não-aprendizagem, o motivo da reclamação – seja esta da família, da escola e até mesmo do próprio sujeito.

Segundo Weiss (2008, p. 47), a queixa não é apenas uma frase falada no primeiro contato, ela precisa ser escutada ao longo de diferentes sessões diagnósticas, sendo fundamental refletir sobre o seu significado. A partir dessa queixa inicia-se uma investigação a fim de esclarecer o porquê da não aprendizagem. Após análise, são selecionados os instrumentos de avaliação comumente utilizados no contexto psicopedagógico clínico (GIACÓIA, 2012).

3.1 Tipos de Entrevista Iniciais Segundo Weiss, Chamat, Visca, e Pain

Modelos de entrevistas são amplamente propostos por vários nomes renomados no campo da Psicopedagogia. Nesse item será abordado os tipos propostos pelos autores acima citados. Esses modelos fornecem uma estrutura fundamental para conduzir avaliações eficazes e abrangentes. Tais modelos abordam diversos aspectos da vida do indivíduo, desde o contexto familiar e social até as experiências educacionais e emocionais, permitindo ao psicopedagogo obter uma compreensão geral das dificuldades de aprendizagem e das potencialidades do paciente. Além disso, os modelos de entrevistas podem ser adaptados para atender às necessidades específicas de cada caso, garantindo que a avaliação seja personalizada e relevante. Assim, os psicopedagogos podem utilizar essas entrevistas como ferramentas valiosas para diagnosticar problemas, planejar as sessões e orientar de maneira eficaz os tipos de instrumentos que irão aplicar.

EFES – Entrevista Familiar Exploratória Situacional (Weiss, 2008): Entrevista feita com os pais e o aprendente. A EFES (Weiss, 1987, p. 29), tem como objetivo a compreensão da queixa nas dimensões familiar e escolar, a captação das relações e expectativas familiares centradas na aprendizagem escolar, a expectativa em relação à atuação do terapeuta, a aceitação e o engajamento do aprendiz e seus pais no processo diagnóstico, a realização do contrato e do enquadramento e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico.

Técnica da Entrevista Inicial – De acordo com Chamat (2004) denomina-se de Entrevista Inicial, o primeiro contato entre terapeuta e familiares, no qual a problemática (a queixa) apresentada é “escutada” por uma ou duas sessões em um modelo interacionista. A “escuta” inicia-se no momento em que a entrevista é marcada. De acordo com a autora o primeiro contato com os pais consiste na queixa principal voltado para a dificuldade de aprendizagem: é o relato dos sintomas. Essa queixa geralmente é relatada com angústia e ansiedade. É importante observar e identificar a queixa principal e as secundárias como indicadores das causas dos sintomas apresentados. Chamat, chama atenção para ao finalizar a Entrevista Inicial, fazer um enquadramento, ou seja, esclarecer sobre o diagnóstico psicopedagógico, número aproximado de sessões com o aprendiz, os pais, professores, escola, horários, honorários e duração das sessões. Veja o livro Técnicas de Diagnostico Psicopedagógico: o diagnóstico clínico na abordagem interacionista, escrito por Leila Sara José Chamat. 

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A Entrevista Contratual – É uma técnica feita com os pais para colher informações sobre a queixa que a criança vem apresentando no ambiente escolar. O objetivo desta entrevista é analisar os fatos perante a dificuldade de aprendizagem, bem como fazer o enquadramento para acertar honorários, quantidades de sessões e frequências para dar início ao processo diagnóstico. Segundo Visca, (1987) a entrevista contratual é o momento em que colhemos apenas os dados presentes da criança, ou seja, o que está acontecendo neste momento sem entrar no seu histórico de vida.

Motivo da Consulta – A proposta de Sara Pain (1989, p.35) para uma entrevista inicial com pais,  professor do aluno ou com o próprio paciente é centrada no motivo da consulta. Durante essa sessão, são examinadas as informações sobre a verdadeira razão do encaminhamento, quem o fez e como o problema é percebido, se é considerado inerente ao indivíduo ou atribuído a fatores externos.

3.2 Entrevista de ANAMNESE

O objetivo é colher informações significativas sobre a vida do aprendente. Nessa entrevista é possível analisar a história de vida familiar, escolar e história clínica. Trata-se de uma entrevista muito importante, onde se obtém dados para a possível causa do caso, assim é necessário que seja bem aplicada e registrada. A anamnese pode ser estendida para outras pessoas da família a depender do caso. Há vários modelos dessa entrevista, e é importante integrar fatos relatados na EFES para continuação do levantamento de hipóteses e definição de novos instrumentos.

É essencial começar a entrevista discutindo aspectos como a gravidez, o pré-natal e a concepção. Segundo Weiss (1992, p. 64), “a história do paciente começa no momento da concepção, destacando a importância desses períodos na vida do indivíduo e, de certa forma, nos aspectos inconscientes da aprendizagem”.

Algumas circunstâncias do parto como falta de dilatação, circular de cordão, emprego de fórceps, adiamento de intervenção de cesárea, “costuma ser causa da destruição de células nervosas que não se reproduzem e também de posteriores transtornos, especialmente no nível de adequação perceptivo-motriz” (PAÍN, 1992, p. 43).

3.3 Sessões Lúdicas – Recursos Psicopedagógicos

O lúdico foi utilizado ao longo do tempo como recurso terapêutico por psicanalistas infantis como Melanie klein ( criadora da psicanálise de crianças por meio da técnica do brincar) e Anna Freud (fundadora da psicanálise infantil) e Winnicott foram alguns dos primeiros teóricos que se dedicaram a analisar o papel do jogo e da brincadeira como forma de expressão e elaboração de conflitos infantis.

A atividade lúdica é essencial para a compreensão dos processos cognitivos, afetivos e sociais, bem como sua relação com o modelo de aprendizagem do indivíduo. Através do jogo, é possível obter informações valiosas sobre os esquemas mentais e comportamentais do sujeito, revelando como ele pensa, sente e interage com o mundo ao seu redor. Essas atividades permitem ao psicopedagogo observar a dinâmica interna do aluno, identificando padrões de pensamento, mecanismos de defesa e áreas de competência ou dificuldade. Além disso, a atividade lúdica facilita a expressão espontânea e genuína, proporcionando um ambiente seguro para explorar as emoções e as habilidades sociais, fundamentais para um diagnóstico abrangente e preciso.

Visca, utilizou como primeira sessão diagnóstica A EOCA. De acordo com Visca (1987, p.72), a entrevista com a criança é uma ferramenta simples para avaliar a aprendizagem e seu estágio. Através dessa entrevista, são observadas as atitudes, habilidades, mecanismos de defesa, ansiedades, áreas de expressão comportamental, níveis de operatividade e mobilidade horizontal e vertical, entre outros aspectos.

EOCA – Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (Visca, 1987, p. 72): Foi elaborada por Jorge Visca com o intuito de “permitir ao sujeito construir a entrevista de maneira espontânea, porém dirigida de forma experimental”. O autor sugere que a E.O.C.A. seja desenvolvida como uma forma de primeiro contato com o sujeito, uma primeira entrevista.

A EOCA, portanto é um dos primeiros instrumentos a ser aplicado, sendo que as propostas de atividades a serem feitas e os materiais a serem utilizados vão depender da idade e escolaridade do aprendiz. Durante a aplicação é necessário observar três aspectos: A temática, a dinâmica e o produto feito pelo aprendente. Nessa aplicação é possível obter informações sobre o nível pedagógico, cognitivo, vínculo negativo com a aprendizagem, dificuldades de coordenação motora, dificuldade na organização das atividades, baixo nível de atenção e outas situações. Visca (1987) propõe que a partir desta análise seja possível desenvolver o Primeiro Sistema de Hipóteses e assim dar continuidade ao processo diagnóstico uma vez que este estabelece quais as linhas de investigação que o psicopedagogo deve investir seus esforços.

Sessão Lúdica Centrada na Aprendizagem(Weiss, 2008, p. 75). Experimentou durante muitos anos os instrumentos E.O.C.A. (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem) e a Hora do Jogo Diagnóstico, e ela percebeu que para algumas crianças a E.O.C.A. era bastante formal, desse modo passou a experimentar a Hora do Jogo Diagnóstico, e percebeu que o  instrumento, quase não havia espaço para condutas relacionadas à aprendizagem escolar formal reveladoras do nível pedagógico da criança. Assim, Passou a unificar as estruturas dos dois instrumentos, acrescentando jogos formais. A sessão lúdica centrada na aprendizagem é fundamental para a compreensão dos processos cognitivos, afetivos e sociais, e sua relação com o Modelo de Aprendizagem do sujeito. Esse instrumento auxilia no diagnóstico de crianças que não respondem a testes formais e dão pistas no levantamento e usos de outros testes. também é indicado na avaliação de crianças portadoras de necessidades especiais na idade pré-escolar ou escolar, quando não tem repertório de linguagem verbal e não responderem às outras formas de investigação; e de crianças com suspeita de hiperatividade ou distúrbios de comportamento, transtorno do desenvolvimento intelectual nos diversos graus como leve, moderado, grave ou profundo que não respondem aos testes formais padronizados.

Hora do Jogo Psicopedagógico (Sara Paín, 1985) – A psicóloga e psicopedagoga argentina Sara Paín desenvolveu a técnica da Hora do Jogo, uma atividade lúdica que permite observar a dinâmica da aprendizagem e compreender os processos cognitivos, modelos de aprendizagem e relações vinculares, enquanto se interage com o aluno.

A hora do jogo é um valioso instrumento para análise e coleta de dados no diagnóstico psicopedagógico. Durante esse período, é possível observar a dinâmica da aprendizagem, compreender os processos cognitivos, identificar os modelos de aprendizagem e avaliar as relações vinculares. Além disso, serve como uma ferramenta de intervenção que pode desenvolver a percepção, a ação, a integração, a interação e a autonomia do indivíduo. Fernández (1991) afirma que a hora do jogo psicopedagógico supera a dicotomia testes projetivos/testes de inteligência, e principalmente, ajuda a observar aspectos que tradicionalmente foram estudados de forma isolada e somente em seus produtos. Segundo Paín (1985) a técnica hora do jogo pode ser utilizada até os nove anos de idade.

Jogos de Regra – A utilização do jogo de regras como um recurso terapêutico ou escolar, seja por parte do psicopedagogo ou do educador, exige conhecimento de sua estrutura e clareza dos objetivos a serem atingidos. Macedo (1997) lembra que ao se propor um jogo é preciso ter em mente o porquê de jogar, o que jogar, para quem, com que recursos, de que modo jogar, quando e durante quanto tempo jogar, e qual a continuidade desta atividade ao final de seu desenvolvimento.

O jogo de regras, por ter um objetivo claro ou uma situação-problema que deve ser resolvida pelo jogador conforme um conjunto de normas pré-definidas, é uma ferramenta valiosa para o psicopedagogo. Não é apenas a análise dos meios e procedimentos que a criança utiliza para tentar vencer o jogo que interessa, mas também suas atitudes e emoções diante do desafio e do resultado. O psicopedagogo deve ajudar a criança a tomar consciência de suas jogadas e dos resultados, sejam eles positivos ou negativos, e a planejar suas ações de forma antecipada. Este controle “metacognitivo” desenvolvido através do jogo pode então ser generalizado para outros contextos, como o ambiente escolar, promovendo uma maior habilidade de planejamento e reflexão em diversas situações da vida.

Portanto os jogos são recursos indispensáveis, tanto na avaliação como na intervenção psicopedagógica, pois favorecem os processos de aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Portanto, para o psicopedagogo o uso dos jogos torna-se fundamental tanto para realizar o diagnóstico de uma criança com transtorno ou dificuldade de aprendizagem, assim como utilizá-los como ferramentas durante as suas intervenções terapêuticas.

3.4 Utilização de Provas e Testes ( Instrumentos Formais de Avaliação)

As provas e testes podem ser usadas para especificar o nível pedagógico, estrutura cognitiva, comportamental, corporal e/ou socioemocional do sujeito. Segundo Weiss (2008, p. 104), ele representa um recurso a mais a ser explorado pelo terapeuta. Os testes e provas são selecionados de acordo com a necessidade surgida em função de hipóteses levantadas nas sessões familiares (na EFES), nas atividades lúdicas etc., quando alguns aspectos não ficam claros e exigem um aprofundamento por outros caminhos. É importante nesse momento da avaliação balancear o número de testes qualitativos e quantitativos. Testes quantitativos são aqueles que utilizam bases científicas e enquadramento em score, já os testes qualitativos são aqueles que necessitam de um olhar mas teórico do profissional.

Há inúmeros testes e provas que podem ser utilizados no diagnóstico psicopedagógico, sendo que as provas de inteligência são de uso exclusivo de psicólogos. As de uso psicopedagógico são as provas de nível de pensamento (Piaget); os quatro volumes da Avaliação Neuropsicológica Cognitiva; Tarefas para Avaliação Neuropsicológica (Avaliação de Linguagem e Funções Executivas) em crianças; BTN (Bateria de Testes Neuropsicológicos);  Teste de avaliação da aprendizagem formal do nível pedagógico com base no nível de escolaridade (IAR, TCLPP, IPPL, PROADE, TDE, EAVAP-EF, Ditado Banlanceado – DB, Inventário Portilho/Beltrami de Estilos de Aprendizagem  e outros.); testes projetivos do Visca; testes psicomotores (Pop-TT; Bateria de Testes de Organização Psicomotora; psicomotricidade Manual básico), Escalas para avaliar o TDAH (ETDAH-CriAd; ETDAH-PAIS; ETDAH-AD e ETDAH-II) e jogos psicopedagógicos fazem parte da bateria de testes psicopedagógicos.

É importante destacar que os testes possuem bases científicas e métricas que auxiliam significativamente no rastreamento quantitativo das dificuldades e lacunas na aprendizagem. No entanto, eles são apenas um dos recursos disponíveis e não constituem o processo de avaliação em si. É aconselhável complementar os testes com outros recursos, como conhecimento teórico, observações e entrevistas, para obter uma avaliação qualitativa mais abrangente. Essa abordagem holística garante uma compreensão mais completa e precisa das necessidades do indivíduo.

3.5 Análise do Material Escolar

Para Scicchitano (2013, p. 129), a análise do material escolar é um importante instrumento na avaliação psicopedagógica, uma vez que “[…] observar a organização e o cuidado com o material ajuda o psicopedagogo a conhecer e compreender a atenção e o cuidado que a criança recebe da mãe, dos familiares, da professora e o cuidado que está aprendendo a ter consigo mesma e com o seu material”. Além disso é muito importante que seja observado testes e provas escolares com o intuito de verificar  aspectos de compreensão  das questões; percepção de domínio do conteúdo; respostas coerentes; uso  do raciocínio ao problema proposto; realização correta de cálculos e clareza, coerência, uso adequado de regras gramaticais e tantas outras situações. Weiss (1997) ressalta que conhecer os valores e normas da escola (em termos pedagógicos e disciplinares), o tipo de exigência, o tipo de clientela e o corpo docente auxilia na contextualização da queixa familiar e escolar.

4.  Áreas da Avaliação Psicopedagógica

Para realizar o diagnóstico psicopedagógico, o profissional deve focar sua atenção em diferentes áreas: Pedagógica (linguagem oral, leitura, escrita, expressão verbal/não verbal, raciocínio lógico-matemático); afetivo-social; psicomotora e cognitiva. Segundo Castanho (2013, p. 206), a investigação dessas áreas favorece um “olhar para as possibilidades de aprendizagem e de expressão humanas, para além dos reducionismos da normatização e da adaptação ao meio”.

4.1 Avaliação do Nível Pedagógico

Os testes pedagógicos são ferramentas essenciais para avaliar habilidades fundamentais como leitura, escrita, matemática e expressão verbal em relação ao processo de aprendizagem do indivíduo. Esses instrumentos permitem ao psicopedagogo identificar áreas de dificuldade e competência, proporcionando uma visão detalhada das capacidades e desafios específicos de cada aprendiz.

– Na Expressão Verbal – Oralidade: Deve-se avaliar a linguagem oral, a linguagem expressiva e a
linguagem receptiva;

Na Leitura:   Deve ser trabalhado a leitura silenciosa e oral;

– Na Escrita:  Avalia-se a construção da escrita, a ortografia e os aspectos gramaticais;

– Na Matemática: São avaliados os eixos conceitos básicos, números, operações e resolução de problemas.

Essa avaliação não deve se limitar apenas ao conteúdo escolar, deve ser observado o comportamento do aprendiz de uma forma global, como o funcionamento cognitivo e também as emoções expressadas com suas ações no decorrer da aplicação. É crucial definir o nível pedagógico para identificar a adequação idade/série. É possível avaliar qualitativamente e quantitativamente.

Na avaliação qualitativa pode ser usado material graduado de acordo com a série, aplicando testes informais de leitura, escrita e aritmética para o rastreio de habilidades. Nesse caso o terapeuta deve ter conhecimento mais amplo na área pedagógica e conhecimento também nos programas oficiais escolares. Relacionados aos instrumentos quantitativos atualmente há inúmera baterias de testes com protocolos validados com dados e base científica. É de suma importância que haja nessa avaliação a aplicação de testes qualitativos e quantitativos.

A partir dos resultados obtidos, o psicopedagogo pode desenvolver um plano de intervenção personalizado e direcionado, que atende às necessidades particulares do sujeito. Além disso, esses testes facilitam o monitoramento do progresso ao longo do tempo, permitindo ajustes nas estratégias de intervenção para garantir que o apoio fornecido seja o mais eficaz possível. Em conjunto com outras técnicas de avaliação, como observações e entrevistas, os testes pedagógicos contribuem para uma compreensão holística do perfil de aprendizagem do indivíduo, assegurando uma abordagem psicopedagógica completa e adaptada.

4.2 Avaliação da Área Afetivo-Social

Avalia a condição afetiva do aprendiz frente às situações de aprendizagem nos âmbitos: escolar, familiar e pessoal. Como o seu nome indica, tratam de desvendar quais são as partes do sujeito depositadas nos objetos que aparecem como suportes da identificação e que mecanismos atuam diante de uma instrução que obriga o sujeito a representar situações estereotipadas e carregadas emotivamente.

O desenvolvimento afetivo e social desempenha um papel fundamental na aprendizagem de um indivíduo. Durante a avaliação psicopedagógica, é importante avaliar aspectos relacionados ao desenvolvimento afetivo e social, como autoestima, habilidades socioemocionais, relacionamento interpessoal e adaptação ao ambiente escolar.

Uma avaliação psicopedagógica abrangente incluirá a observação e análise do comportamento do indivíduo em contexto social, além de entrevistas com os pais, professores e outras pessoas envolvidas em sua vida acadêmica. Essa avaliação permitirá identificar possíveis dificuldades relacionadas ao desenvolvimento afetivo e social, o que possibilitará a intervenção psicopedagógica adequada.

Os instrumentos utilizados são as Técnicas Projetivas. Visca (2008, p.51) considera que a utilização das Técnicas Projetivas Psicopedagógicas permitem a análise do vínculo que o aprendente demonstra com a
aprendizagem, e também, a relação com os colegas de sala, o educador, além das demais pessoas que interagem no ambiente externo escolar, incluindo-se ainda, até a relação que o indivíduo aplica a si mesmo.

Teste Projetivo Par Educativo – Tem a finalidade de analisar a relação professor-aluno através de desenhos, conversas e textos, quando se possibilita verificar se o aprendente criou alguma relação com o seu ensinante, isto é, se estabeleceu vínculo no âmbito escolar. Para Chamat (2004, p.14) “obtém-se uma
produção gráfica e verbal permitindo uma análise do conteúdo latente e manifesto da relação do sujeito com a aprendizagem e com quem a proporciona”.

Teste Projetivo Família Educativa – observar os vínculos de aprendizagem com o grupo familiar e cada um de seus integrantes.

Teste Projetivo Eu e Meus Companheiros – Esta técnica analisa a relação da criança consigo mesma e o vínculo com os colegas de classe.

Teste Projetivo Esquema da Sala de Aula –  Objetiva conhecer a representação do campo geográfico da sala de aula e suas implicações reais e desejadas.

Teste Projetivo o Plano de minha casa – Conhecer a representação do campo geográfico do lugar em que mora e sua real localização dentro do mesmo.

Teste Projetivo Os quatro momentos de um dia – Investigar os vínculos ao longo de um dia.

Teste Projetivo Desenho em episódios – Observar a articulação dos aspectos sociais e relacionais, a organização de raciocínio, a estabilidade das referências internas através dos sistemas e dos movimentos de identificação utilizados

Teste Projetivo Dia do aniversário – Conhecer a representação que tem de si num momento de transição de uma idade para outra.

Teste Projetivo Minhas férias ou o que mais gosto – Levantar as atividades realizadas ou preferidas.

4.3 Avaliação da Área Cognitiva

O desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem são aspectos intimamente relacionados. Durante o processo de avaliação psicopedagógica, é de suma importância avaliar o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, contemplando aspectos como atenção, memória, linguagem e habilidades acadêmicas. Através dessa avaliação abrangente, é possível compreender as dificuldades de aprendizagem presentes e, a partir disso, propor intervenções adequadas visando estimular o desenvolvimento cognitivo e promover uma aprendizagem efetiva.

O desenvolvimento cognitivo refere-se à evolução das funções mentais superiores que são responsáveis pelo processamento de informações, raciocínio, resolução de problemas e tomada de decisões. Durante a infância e a adolescência, há um grande impulso no desenvolvimento cognitivo à medida que as crianças adquirem novas habilidades, aprendem a pensar de forma mais abstrata e a resolver problemas complexos.

Tipos de Habilidades Cognitivas:
  1. Orientação – A orientação é a capacidade que nos permite ter consciência da nossa própria existência e do contexto no qual nos encontramos em um determinado momento.
    • Pessoal,
    • temporal,
    • espacial.
  2. Atenção – Meio pelo qual uma informação é processada ativamente em quantidade limitada,
    sendo selecionada a partir de uma grande quantidade disponível (Sternberg, 2008).

    • Velocidade de processamento,
    • sustentada,
    • seletiva,
    • alternada.
  3. Memória – É uma das mais importantes funções cognitivas, pois é através dela que formamos a base para o processo de aprendizagem. De acordo com Bear, Connors e Paradiso (2002), o aprendizado pode ser visto como um processo de aquisição de novas informações, enquanto a
    memória como a consolidação e recuperação desse conhecimento adquirido.

    • Curto prazo (memória de trabalho ou operacional)
    • Longo prazo ( explicita ou declarativa e a implícita ou não-declarativa – Tulving, 1985).
  4. Linguagem – É uma forma de comportamento usada pelos seres humanos num contexto social, que serve para a representação, expressão e comunicação de pensamentos e/ou ideias, mediante o uso de um sistema de símbolos e a possibilidade de combinação dos mesmos (Castro, 1997; Habib, 2000; Kandel e Kupfermann, 1997; Ruiz e Ortega, 1993). Para um estudo mais minucioso desta função cognitiva, Pereira (2004) classificou a linguagem em quatro domínios:
    • Fonológica,
    • Semântica,
    • Morfossintaxe,
    • Pragmática.
  5. Funções executivas – É o conjunto de habilidades e capacidades que nos permitem executar as ações necessárias para atingir um objetivo. As FEs consistem em um mecanismo de controle cognitivo que direciona e coordena o comportamento humano de maneira adaptativa, permitindo mudanças rápidas e flexíveis ante as novas exigências do ambiente (Zelazo et al., 2003).
    • Memória de trabalho,
    • Raciocínio,
    • Planejamento,
    • Resolução de problemas,
    • Controle inibitório,
    • Flexibilidade cognitiva,
    • Autorregulação ( monitoramento do próprio desempenho)
    • Tomada de decisão.
  6. Gnosias – É a capacidade de reconhecer e interpretar estímulos sensoriais, como imagens, sons e sensações táteis. Ela envolve a percepção e a compreensão desses estímulos, permitindo que sejam identificados e atribuídos significados.
    • Visuais,
    • auditivas,
    • táteis,
    • gustativas,
    • olfativas,
    • esquema corporal.
  7. Praxias – É a capacidade de realizar movimentos propositais e coordenados. Envolve  atividades simples, até tarefas mais complexas (coordenação motora fina e/ou grossa). A praxia está relacionada à capacidade do cérebro de planejar e executar movimentos voluntários.
    • Faciais,
    • ideomotoras,
    • ideativas,
    • visuoconstrutivas.
  8. Habilidades Visuo-construtivas – Está relacionada às habilidades visuoespaciais, uma vez que para manipular objetos adequadamente e deslocar-se no espaço, é necessário ter conhecimento de aspectos do ambiente como a distância entre os objetos, suas localizações precisas e as relações que eles mantêm entre si, ou seja, suas coordenadas (Pataro & Zorzi, 2009).
    • Percepção visual
    • Relação espacial,
    • Visualização espacial.                           
4.4 Avaliação da Área Psicomotora

Analisa o perfil neuro-sensório motor do aprendiz. Para uma pessoa manipular os objetos, ela precisa saber se movimentar no espaço com desenvoltura, habilidade e equilíbrio, e ter o domínio do gesto e do instrumento (coordenação fina). Esses movimentos, desde o mais simples ao mais complexo, são determinados pelas contrações musculares e controlados pelo sistema nervoso. Avalia-se o estágio de desenvolvimento dos sistemas: nervoso, sensorial e motor, responsáveis por todo o trabalho corporal. Durante a avaliação deve-se observar:

Equilíbrio – Reúne um conjunto de aptidões estáticas (sem movimento) e dinâmicas (com movimento), abrangendo o controle postural e o desenvolvimento das aquisições de locomoção.

Coordenação Fina –  Compreende todas as tarefas motora manual associada ao acompanhamento e controle da visão. É a capacidade de controlar os músculos pequenos  para exercícios finos como: perfuração, recorte, colagem, encaixes.

Coordenação Global – Relaciona -se com atividades dos grandes músculos, e é dependente do equilíbrio e da postura da criança (andar, correr, saltar, rolar etc).

Lateralidade – Traduz-se pelo estabelecimento da dominância lateral da mão, olho e pé, do mesmo lado do corpo. Não devemos confundir lateralidade (domínio de um lado em relação ao outro, em nível de força e da precisão) e o conceito esquerda-direita (domínio dos termos esquerda-direita).

Esquema Corporal – Consciência de seu corpo e das possibilidades de expressar-se por seu intermédio.

Orientação Espacial – É a capacidade que o indivíduo tem de perceber a posição de objetos no espaço em relação existentes entre eles ou em relação ao seu corpo (noção de direção (em cima/embaixo, lados, direita/esquerda, frente/atrás) e distancia (longe/perto, longo/curto).

Orientação Temporal – Noções de tempo, duração, sucessão, periodicidade. Percepção de organização de fenômenos sucessivos, representação de passado e futuro, que também envolve as noções de tempo: antes, depois, lento, devagar, rápido, depressa; adaptação ao dia, mês e ano; noção de duração de tempo, horas, velocidade.

5. Síntese Diagnóstica

A síntese diagnóstica é o momento em que é preciso formular uma única hipótese a partir da análise de todos os dados colhidos no diagnóstico e suas relações de implicância, que por sua vez aponta um prognóstico e uma indicação. Esta etapa é muito importante para que a entrevista de devolução seja consistente e eficaz.

“Uma vez recolhida toda a informação (…) é necessário avaliar o peso de cada fator na ocorrência do transtorno da aprendizagem” (PAÍN, 1992, p. 69). Ou seja, depois de coletar todas as informações, é essencial avaliar a importância de cada fator na ocorrência do transtorno de aprendizagem. Esse processo envolve uma análise detalhada dos dados obtidos através de testes, entrevistas, observações e outros métodos utilizados na avaliação. Cada fator – seja ele pedagógico, cognitivo, emocional, social ou psicomotor- deve ser ponderado para compreender sua contribuição específica ao problema. A compreensão do peso de cada elemento permite ao psicopedagogo formular a hipótese diagnóstica final depois da reelaboração dos dados e suas interligações, de modo a se ter uma visão global do aprendente relacionada a questão da aprendizagem.

Resumindo, a síntese diagnóstica é a resposta mais direta à questão apresentada na queixa. Realiza-se uma síntese de todas as informações coletadas nas diversas áreas. Trata-se de uma visão condicional que prevê o que poderá ocorrer com base nas recomendações e orientações fornecidas.

6. Entrevista de Devolução e Encaminhamento

A entrevista de devolução marca o encerramento do processo diagnóstico. Este é um momento crucial, como destacado por Paín (1992, p. 72), onde o diagnóstico é primeiramente discutido com o sujeito e depois com os pais. Durante este encontro entre o sujeito, o psicopedagogo e a família, são apresentados os resultados do diagnóstico, analisando todos os aspectos da situação e realizando uma síntese integradora, seguida de um encaminhamento. Este momento é altamente esperado pela família e pelo sujeito e deve ser conduzido de maneira participativa para eliminar dúvidas e afastar rótulos e preocupações que geralmente surgem durante um processo diagnóstico.

Weiss (1992) recomenda organizar os dados do paciente em três áreas principais: pedagógica, cognitiva e afetivo-social, ajustando a sequência dos tópicos a serem abordados para enfatizar os pontos mais relevantes. É essencial que o psicopedagogo siga um roteiro para evitar confusões e garantir que os pais compreendam as informações. A entrevista deve ser conduzida com afeto e seriedade, proporcionando segurança aos participantes. Muitas vezes, os pais acabam revelando informações adicionais durante essa entrevista, que podem complementar o diagnóstico.

Inicialmente, é importante destacar os aspectos positivos do paciente para valorizá-lo, especialmente se ele já possui baixa autoestima. Focar apenas nos aspectos negativos pode ser perturbador e inviabilizar novas conquistas. Depois, devem ser mencionados os pontos que causam dificuldades de aprendizagem. Por último, são discutidas as recomendações, como mudanças de escola ou turma, a necessidade de estimular a leitura em casa, e as indicações de atendimentos adicionais, como consultas com fonoaudiólogos, psicólogos ou neurologistas.

Avaliação Psicopedagógica

Sintetizando a Avaliação Psicopedagógica: O Passo a Passo

  1. Queixa – Hipótese Inicial
  2. Coleta de dados: realização de entrevistas ( com aprendiz, os pais, os professores); análise do material escolar (cadernos, livros, provas, testes, relatório escolar, boletim e/ou histórico escolar); aplicação de testes; análises de relatórios de terapeutas que acompanhe o aprendiz.
  3. Análise de dados: cuidadosa avaliação e interpretação dos dados coletados para identificar as dificuldades de aprendizagem.
  4. Hipótese Diagnóstica Final: identificação das causas e características das dificuldades de aprendizagem.
  5. Devolução e Encaminhamento: Fazer recomendações e indicações aos pais e a escola com proposta de estratégias e atividades adequadas para estimular o processo de aprendizagem.

O diagnóstico psicopedagógico deve buscar as reais causas da dificuldade de aprendizagem do aluno, uma vez que “nem sempre residem em ‘falhas’ no seu desenvolvimento intelectual ou emocional, mas englobam a criança, a escola, os métodos de ensino utilizados, os conteúdos, envolvendo enfim as relações que a criança estabelece no processo de aprendizagem”. Mantovanini (2001, p. 35).

Através da avaliação psicopedagógica, é possível identificar as áreas problemáticas do processo de aprendizagem, como dificuldades na leitura, escrita, matemática ou concentração, e assim estabelecer um diagnóstico preciso. Com base nesse diagnóstico, o profissional psicopedagogo pode elaborar um plano de intervenção personalizado, que inclua estratégias e técnicas específicas para auxiliar o indivíduo a superar suas dificuldades.

Muitas vezes, a avaliação psicopedagógica também envolve a observação do comportamento e atitudes do indivíduo em diferentes contextos, como sala de aula e ambiente familiar. Essa abordagem holística ajuda a compreender a influência de fatores externos no processo de aprendizagem e a desenvolver intervenções mais eficazes.

Conclusão

A avaliação psicopedagógica é um processo fundamental para identificar e intervir nas dificuldades de aprendizagem. Neste guia, exploramos os principais aspectos dessa avaliação, desde as etapas e técnicas utilizadas até as recomendações para o processo de intervenção.

Através da avaliação psicopedagógica, é possível obter uma compreensão mais completa do processo de aprendizagem de cada indivíduo, identificando suas necessidades educacionais específicas e propondo intervenções adequadas. Essa abordagem visa promover o desenvolvimento educacional e superar as dificuldades encontradas.

Esperamos que este guia tenha sido útil para profissionais da área de psicopedagogia e para todos interessados em apoiar o desenvolvimento educacional de indivíduos com dificuldades de aprendizagem. Através da avaliação psicopedagógica, podemos estar mais preparados para oferecer um suporte efetivo e contribuir para o progresso e bem-estar desse público.

FAQ

O que é avaliação psicopedagógica?

A avaliação psicopedagógica é uma ferramenta essencial para identificar e auxiliar nas dificuldades de aprendizagem de um indivíduo. Ela envolve um processo de coleta e análise de informações sobre o desenvolvimento educacional, utilizando diferentes técnicas e abordagens.

Qual é o papel da psicopedagogia nos tempos atuais?

A psicopedagogia desempenha um papel fundamental na identificação e superação das dificuldades de aprendizagem nos tempos atuais. Ela busca compreender o processo de aprendizagem, diagnosticar possíveis obstáculos e propor intervenções adequadas para promover o desenvolvimento educacional.

Por que a avaliação psicopedagógica é importante?

A avaliação psicopedagógica é um componente crítico da intervenção psicopedagógica, pois fornece subsídios para identificar e compreender as dificuldades de aprendizagem de um indivíduo. Ela envolve a coleta e análise de informações relevantes sobre o processo de aprendizagem, a fim de identificar as necessidades educativas e fundamentar as decisões em relação às intervenções necessárias.

Como é realizado o processo de avaliação psicopedagógica?

O processo de avaliação psicopedagógica envolve a coleta de dados relevantes sobre o indivíduo por meio de diferentes técnicas e instrumentos. Esses dados são analisados cuidadosamente para identificar as dificuldades de aprendizagem e compreender o processo de aprendizagem do sujeito. Durante a avaliação, são realizadas entrevistas com os pais, análise do material escolar, aplicação de testes e observação do comportamento e desempenho do indivíduo. Com base nos dados coletados e analisados, são feitas recomendações e propostas de intervenção adequadas para promover o desenvolvimento educacional.

Quais são as recomendações para a avaliação psicopedagógica?

Durante o processo de avaliação psicopedagógica, é importante ter algumas recomendações em mente. É fundamental realizar uma coleta de dados abrangente e precisa, utilizando diferentes técnicas e instrumentos para obter informações relevantes sobre o indivíduo. Além disso, é necessário analisar e interpretar os dados de maneira cuidadosa e criteriosa, observando as particularidades do caso. Com base na análise, é possível propor intervenções adequadas para promover o desenvolvimento educacional do indivíduo.

Links de Fontes

  • https://portalidea.com.br/cursos/avaliao-psicopedaggica-apostila01.pdf
  • https://julianapalma.com.br/atendimento-psicopedagogico-passo-a-passo-etapa-5-testes-especificos/
  • Maio, Eliane Rose. Avaliação, diagnóstico e atendimento na prática clínica e institucional [recurso eletrônico] / Eliane Rose Maio, Solange Franci Raimundo Yaegashi. Curitiba: Universidade Positivo, 2014.
  • Manuel Sánchez-Cano, Joan Bonals, organizadores. Avaliação Psicopedagógica. Porto Alegre; Artmed, 2008.
  •  Shiderlene Vieira de Almeida Lopes O Processo de Avaliação e Intervenção em Psicopedagogia Curitiba, 2008
  • BOSSA, Nádia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2 eds. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
  • FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
  • PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4. ed. Porto
    Alegre: Artes Médicas, 1992.
  • WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas
    de aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
Auxiliadora Lemos
Auxiliadora Lemos

Sou Auxiliadora Lemos. Professora e Psicopedagoga Clínica com mais de 18 anos de experiência na área. Esse espaço é dedicado a assuntos da Psicopedagogia, para guiar estudantes, recém-formados e profissionais que estão começando na área. Meu objetivo é oferecer suporte, compartilhar conhecimentos, dar dicas de recursos e facilitar a transição acadêmica à prática psicopedagógica. Vamos explorar juntos o fascinante universo do desenvolvimento humano e da aprendizagem!

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Um comentário

  1. […] Desse modo a avaliação acontece, por meio de atividades informais (testes qualitativos), encontrados em editoras da área como instrumentos qualitativos de avaliação das habilidades preditoras e instrumentos formais (testes quantitativos),  ou seja, testes psicométricos que avaliam de forma padronizada e objetiva as habilidades cognitivas (inteligência, habilidades verbais e numéricas, atenção, memória, entre outros), emocionais e comportamentais de uma pessoa. Para iniciar com essa avaliação do processo de investigação da escrita, deve ser planejado os tipos de instrumentos após o primeiro sistema de hipóteses levantadas na Queixa, nas Entrevistas iniciais e nas Observações dessas  sessões. Para uma melhor compreensão leia o artigo: https://serpsicopedagoga.com.br/avaliacao-psicopedagogica-guia-pratico/ […]

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